Guilherme Reolon de
Oliveira
Corporate
Philosopher, Consultor em Felicidade Organizacional, Doutorando em Filosofia
(PUC-RS)
Em alusão ao
Dia Internacional da Filosofia e ao Dia Nacional do Filósofo, comemorados nesta
semana, proponho uma reflexão, baseada na questão: “Queres o que desejas?”. A
filosofia, como amizade pelo saber, se ampara no questionamento conceitual e,
sua face aplicada é profícua para uma vivência mais plena e com sentido.
Na correria do
dia-a-dia, seguimos a rotina cotidiana, caímos no automático. E, com isso,
pouco refletimos, quando muito sobre o que gostamos. Em um exercício que
proponho aos colaboradores das organizações onde aplico o Programa de Gestão da
Felicidade, a partir do Questionário Proust, convido a pensar em cor,
música, pintores, personalidades favoritos. Muitos constatam que se perderam de
si mesmos, deixando de lado gostos e preferências. “Eu adorava ler, hoje só
fico no celular”(sic), disse certa funcionária. Ouvi “quando me aposentar,
quero aprender a andar de roller”(sic). Mas, e até lá? Por que esperar,
por que não retomar algo que sempre gostou de fazer? E isso tudo é apenas
comportamento, superfície, camada externa.
Nesse sentido,
a música “Comida”, dos Titãs, é um convite a refletir sobre a diferença entre
necessidade, vontade e desejo. Nossas necessidades se dividem em fisiológicas
(alimentação, sono, abrigo), psicológicas (segurança, pertença, afeto) e de
auto-realização. São fatores sem os quais, basicamente, não nos satisfazemos.
Ter vontade de algo, por sua vez, é efêmero: realizada ou não uma vontade,
provavelmente, não fará grande diferença, sequer a curto prazo. Vincula-se ao
prazer imediato, momentâneo, supérfluo. O desejo, contudo, se diferencia,
substancialmente, em seus fundamentos.
Antes mesmo de nascermos, uma série de expectativas, projeções, são lançadas sobre nós, logo configurando marcas. O nome próprio carrega características referenciais, na maioria das vezes ignoradas ou negadas pelo sujeito. O sobrenome é designador da origem, ao passo que o prenome é traço unário, aquilo que Lacan designou como traço diferenciador e, portanto, identificador. Como traço unário, o prenome é título de uma história, escrita por nossos pais. O roteiro dessa história, contudo, é um texto cuja escrita deve ser elaborada por cada sujeito, diante da pergunta “O que desejo?”. Importante que, num trabalho de subjetivação, cada um não deixe que outro escreva a sua história; que se desaliene do desejo do Outro e descubra qual seu verdadeiro Desejo. Interpretar, elaborar e ressignificar o que fizemos com o que fizeram (e quiseram ou pensaram) de/para nós, dando novos sentidos a tudo isso, não cedendo de nosso Desejo autêntico, é um trabalho árduo, que poucos estão dispostos a realizar, calcado em autoconhecimento e cuidado de si, princípios da felicidade verdadeira, diferente de sorrir o tempo todo, ou mesmo ficar apenas rindo à toa.
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