Guilherme Reolon de
Oliveira
Filósofo, sociólogo e
jornalista, Doutorando em Ética e Filosofia Política (PUC-RS)
O espanto é a origem do
filosofar, segundo Platão e Aristóteles. E, no contemporâneo, são muitos os
acontecimentos que nos impressionam. A filosofia, com a pandemia, e os
consequentes questionamentos sobre verdade e método (especialmente relativos às
fake news e o papel da ciência na
sociedade), está em voga. Seus usos, no entanto, parecem restritos se
comparados às possíveis aplicações da área.
A face teórica da filosofia tão
rica e fundamento dos outros saberes está em descrédito. No âmbito educacional, a
lei nº 11.684/08 instituiu sua obrigatoriedade no currículo escolar do Ensino
Médio. Colocada em xeque recentemente, torço para que, com o Novo Ensino Médio,
adquira nova roupagem que atraia os jovens, ultrapassando a dimensão da teoria,
aplicando-a, por ex., na alfabetização para a mídia e as imagens. No ensino
superior, com a redução dos currículos, foi marginalizada, antes presente como
disciplina obrigatória, ao menos no âmbito da teoria da ciência e metodologia
da pesquisa. Sua atual ausência talvez explique, inclusive, o desprestígio da
ciência.
Sua face aplicada, todavia,
parece ganhar novos contornos que, embora não tão novos, demoram a se
concretizar no âmbito regional e local. A filosofia clínica já é uma realidade
– assunto para outro artigo. E a revista Exame, há mais de 15 anos, noticiou a
contratação de filósofos nas grandes corporações e em empresas de consultoria.
Com muitos profissionais com MBA, abrem-se as portas para outras formações,
como diferencial de mercado, mas não só. Diversificação de perspectivas é a
grande chave para entender essas nova realidade. No mercado de ações, as
governanças corporativas exigem uma nova ISSO vinculada a preceitos éticos
(filosofia primordial!).
O filósofo, nesse sentido, tem
formação compatível às diferentes questões contemporâneas, inclusive corporativas:
valores, missão e princípios institucionais. O filósofo pode constituir setor
específico na organização (p.ex., um Escritório de Ética), ou atuar como
auxiliar ou consultor em departamentos de treinamento, gestão de pessoas,
engenharia de produção, patrimônio, em conselhos curadores, conselho de
administração, equipe diretiva, marketing e comunicação. Em atenção às práticas
internacionais (normas de conduta e transparência), é fundamental no setor de Compliance.
Desejando estar inserida no contexto
contemporâneo, a empresa, com o filósofo, ampara-se diante de constantes
demandas: inclusão e diversidade, felicidade e bem-estar, liderança e
desenvolvimento emocional, reconhecimento da diferença, acessibilidade,
liberdade e igualdade, democracia, identidade institucional, responsabilidade
social, design de produto, processos produtivos.
Amparada na máxima “Conhece-te a
ti mesmo”, a filosofia, como amizade pelo saber, utilizando-se de diferentes
métodos (maiêutica, dialética, lógico-analítica, fenomenologia e hermenêutica),
só tem a contribuir para uma gestão ao mesmo tempo lucrativa e sustentável.
Fica o convite aos empresários!. E seu diferencial!.