Guilherme Reolon de
Oliveira
Filósofo, sociólogo e
jornalista, doutorando em Ética e Filosofia Política (PUC-RS)
A Transformação Digital visa à
ação humana. E o propósito da ação humana é a felicidade, aquilo que os gregos
definiam como eudaimonia, ou seja, a
excelência. Pessoas felizes produzem mais, são mais criativas, mais
determinadas. Mas a felicidade não é consequência de algo, mas um exercício, um
processo, de tornar-se si mesmo, que se baseia no cuidado de si. É
descobrir-se: suas potencialidades, seus limites, em suma seu estilo e, em
última análise, seu desejo, o que não se vincula ao efêmero ou ao perecível, à
posse ou ao poder. Ser feliz, nesse sentido, é uma tomada de consciência, de
sentido, a partir da construção de um projeto de vida.
Sob este foco atuará o Corporate Philosopher (CP) e sua
variação, o Chief Philosophy Officer,
nas empresas. Cabe destacar que algumas organizações já estão criando,
inclusive, um Departamento de Felicidade (a pioneira o fez em 2017). Pesquisadores
indicam que o profissional responsável por este setor (seja o CP ou o Hapiness Manager), ouve e mede, gere
diferente, inova, motiva a cooperação, dá sentido a valores comuns. Pesquisas
apontam que a saúde está ligada à felicidade: bons níveis de cortisol, LDL e
sono estão intimamente conectados ao bem-estar, à satisfação e, principalmente,
ao reconhecimento e valorização de suas habilidades e talentos. Dessa forma,
questões como o engajamento, o sentimento de pertencimento ao grupo são
importantes no contexto organizacional. O CP,
nesse sentido, atuará na Cultura Organizacional, em seus diferentes níveis,
especialmente com as lideranças e seu desenvolvimento emocional. Terá como foco
os valores, a missão e os princípios instituídos pela empresa, possibilitando
que sejam implementados verdadeiramente. A partir dos diferentes métodos e
teorias filosóficos (maiêutica, dialética, lógico-analítico, dedutivo, indutivo,
fenomenologia, hermenêutica, etc.), o CP proporá questões, que passam
desapercebidas diante da correria dos procedimentos internos, para que a
reflexão tome o lugar do fazer mecanizado e automatizado, propondo a solução de
problemas.
O primeiro teórico que refletiu
sobre a felicidade foi Aristóteles, 25 séculos atrás, em sua obra magistral dedicada à ética.
Como filósofo empírico, o pensador associou a felicidade à prática da virtude.
Dessa forma, destaca-se que o foco do CP não é apenas a felicidade dos membros
de uma organização, mas a ética, ou seja, o que concerne às ações do grupo. A
filosofia, antes de uma abstração, algo puramente teórico, nasceu com a
finalidade de melhorar a vida das pessoas, por meio do questionamento sobre
suas visões de mundo.
Assim, o CP atuará integrando valores
espirituais e princípios de negócios, valores democráticos e lucratividade;
propiciando aprendizados, bem-estar e crescimento; e assumindo uma posição do
que é ética e moralmente correto. Isso tudo a partir do tripé Propósito, Paixão
e Valores. Incerteza e mudança, modelos mentais, percepção, pensamento criativo
são alguns pontos de atuação deste profissional.
Por isso, o historiador israelense
Yuval Noah Harari, em sua obra “21 lições para o século 21” (2019), destacou
que Chief Philosophy Officer será a
profissão do futuro.