Um Porto Verão
Alegre com muita diversidade na linguagem e na qualidade cênicas. Assim a 18ª
edição do Festival poderia ser resumida.
Houve um pouco
de tudo. Mas cabe destacar espetáculos muito bons, quase sem falhas, como: O Mal
Entendido; Pois É, Vizinha...; Caio do Céu; Homens de Perto Desgovernados;
Bailei
na Curva e A Comédia dos Erros.
O Mal
Entendido e Caio do Céu se destacaram com inovação na linguagem cênica, não
resvalando para o “confortável” enquadramento de “contemporâneo”, para qualquer
coisa fazer. Foram inovadores de maneiras distintas.
O Mal
Entendido por aliar a densidade do texto na formatividade da peça:
transformou a densidade discursiva numa atmosfera densa.
Outra montagem
tentou fazê-lo, porém sem êxito, trazendo mais desconforto que interrogação: Danke.
Caio
do Céu foi inovador, por sua vez, na mescla de linguagens: a construção
do roteiro foi muito bem articulada, confirmando o talento da excelente atriz,
que no monólogo
Pois É,Vizinha...
cativou a platéia.
Aliás, é
cativando o público que Bailei na Curva também alcança, com
a excepcional qualidade cênica de seus atores, o destaque: nem se percebe que
mais de duas horas passaram quando a peça chega ao fim.
Na dança,
destaque para Brasileirada, que merece um Açorianos, com certeza!
Uma pena que as
outras duas montagens em dança, Abobrinhas Recheadas e SeteOito,
não tenham o mesmo merecimento, ainda que Abobrinhas tenha uma excelente coesão
grupal e técnica de movimento, mas não podendo ser classificada como de dança (é
um teatro, talvez, de música com mímicas). SeteOito, por sua vez, foi uma
decepção como teatro e como dança, destacando-se contudo, pelo figurino, muito
bem criado.
Neste Porto Verão
Alegre, houveram grupos que trocaram de figurino em cena, como em Dez (Quase)
Amores e Amor de 4, o que enfraquece a continuidade perceptiva, não
bastasse Dez (Quase) Amores afirmar-se baseada no livro homônimo, porém
desfigurando-o, e muito.
Um
Caso para Terapia destacou-se nos figurinos, mas só: muito a melhorar
com a falta de “timing” narrativo e
verossimilhança com o que caracteriza uma terapia, o que comprometeu a peça.
Nesta, os atores não trocavam de roupa em cena, mas, deslocando-se às coxias,
deixavam o palco vazio, uma pena!
Comédia
Urbana também teve um pouco de falta de “timing”, uma falha se tratando de uma variação de “stand up”. Porém, depois de Homens
de Perto Desgovernados, com
atores mais experientes no fazer rir, Comédia Urbana trouxe “sketcks” e personagens interessantes,
que provocaram identificação com o público porto-alegrense. Nessas variações de
“stand up”, o do Bagual do Gaudêncio
provocou a platéia gaúcha, porém com alta carga de desnecessário “baixo calão”,
levado às últimas consequências em Só para Maiores, com excessos
pornográficos. Uma pena que confundam “sem vergonha”, neste último espetáculo,
com “exagero de linguagem chula”. Seria dispensável incluir trechos de filmes
pornográficos no início, adequados mais a motéis. Os atores queriam “ensinar”
educação sexual, porém sem saber como fazê-lo, o espetáculo-palestra ficou “baixo”.
Isso também se
repetiu em Alcemar e a Mascada Perdida, que mergulhou fundo no ridículo.
Só não foi pior
que outro: Quando Vi Minha Vida Não Existia foi decepcionante em todos os
sentidos: sem qualquer destaque e qualidade dramática, beirando à “péssima”.
Neste Porto
Verão Alegre teve até ilusionismo, com Kronos. Números de mágica simplórios,
satirizados por O Homem Bruxa, que não cativou o público.
Destaque
especial para dois espetáculos em que homens interpretaram papéis femininos e
cujas interpretações foram muito boas, roteiros, figurinos e cenários bem
pensados: Hotel Rosashock e O que Terá Acontecido a Baby Jane?.
Peças como Tedy;
Um
hippie, um Punk, Um Rajnesh; Inimigas Íntimas e 5º
Andar, por favor! foram boas, com roteiros bem articulados, atuações
ok, porém sem muito destaque. Cabe lembrar, contudo, que sem muitas pretensões,
alcançaram o que se espera com um espetáculo teatral, no mínimo,
entretenimento.
Barbie
Fuck Forever, Os Dois Gêmeos Venezianos, O que
os Homens pensam que as Mulheres Pensam, A Mecânica do Amor, A Comédia
dos Erros, Beatles em Concerto, Se meu Ponto G Falasse, Manual
Prático da Mulher Moderna, Apareceu a Margarida, Frida
Khalo, Besteirol e Projeto Secreto: Gaiola das Loucas,
vistos em outros momentos, já foram por nós comentados.
Sobre a peça A Partícula de Deus: uma história mal contada, com falhas no roteiro, um problema crescente nos dias de hoje, em todos os meios e mídias.
De Caminhos que Cruzei: a mesma problemática, com o agravante de ser muito tendenciosa (sem julgamentos quanto a isso - mas fica indigesto o sincretismo religioso, quando é dito que está-se utilizando de temáticas de uma religião específica - fica-se com a impressão que não entendem do que pregam!).
E.T.:
1 - Teatro
lotado não é sinônimo de qualidade cênica, técnica. Pode ser apenas resultado
de marketing exacerbado e cultura de massa televisiva. Tivemos alguns exemplos
críticos neste Festival.
2 - Independente da qualidade das peças, destaca-se que, em
tempos de crise financeira brasileira, mas também mundial, festivais como esse
merecem todo nosso aplauso, pois são divulgadores de cultura a toda uma população
que está de férias e precisa divertir-se minimamente. Pena que acabe antes do término
das férias, deixando um vazio na cena cultural da cidade e região!.
Guilherme Reolon
de Oliveira
MTb 15.241
Vera Marta Reolon
MTb 16.069