" SE EXISTE UMA GUERRA A SER TRAVADA, É A GUERRA CONTRA A INDIFERENÇA QUE CORRÓI AS NOSSAS SOCIEDADES".
Com esta frase aí em cima os divulgadores do Fronteiras do Pensamento apresentaram o médico ginecologista congolês, no último dia 19 de agosto, no Salão de Atos da UFRGS.
O médico foi um dos palestrantes convidados do Fronteiras que, neste ano, aborda o tema Sentidos da Vida.
Que sentido há em uma vida desperdiçada em uma sociedade que mata para "minerar" um minério específico para fabricação de smartphones?.
Mas, pior (se é que pode haver pior em casos semelhantes), estupram e mutilam mulheres. Elas são tratadas como objetos absolutamente descartáveis em uma sociedade ávida por "evolução" tecnológica. De que evolução se pode falar aqui??.
Denis foi condecorado com o Prêmio Nobel da Paz em 2018, pelo seu trabalho na República Democrática do Congo. Realiza ainda hoje 18 cirurgias/dia em mulheres violadas pela guerra, no Congo. Por incrível que possa parecer, não é guerra tribal, nem territorial, nem mesmo religiosa, mas uma guerra pela exploração de minério para fabricação de smartphones (não deveriam nem ser fabricados, nem mesmo consumidos, sob tais situações e condições!) . Os smatphones, nas terras de cá, são o símbolo da evolução tecnológica, do que todos chamam de abertura para a globalização, para o sem fronteiras, mas, lá, no Congo, trazem a destruição e a involução mais brutal, o retorno ao primitivo, ao mais arcaico do "homem" que, em 2019, já deveria ter sido banido da terra.
Que sentido há numa vida desperdiçada desta forma, apenas para obter recursos financeiros, que nem devem ser de grande monta, já que os que ganham mesmo nisso escondem-se atrás das paredes (e, não raramente, sabem bem como os congoleses agem!).
Nesta "guerra", então comercial, os "interessados" no dinheiro violam mulheres e crianças, lhes roubam a vida, a privacidade, o corpo, as mutilam.
Denis trabalha em um hospital, com a segurança da ONU (já foi ameaçado e sua família) a protegê-lo e a esposa (as filhas moram fora do país, por segurança), protegendo e atendendo (com sua equipe) mulheres em sua saúde física e psicológica, prestando assistência econômica e social, buscando resiliência (sem medo) e, assim, evitando-lhes o suicídio (que geralmente acontece nestes casos).
Denis, desde 2013, mora no hospital em que trabalha no Congo. Diz ele: "A violência sexual é uma questão que abarca toda a humanidade" (sic). Concordo totalmente com ele, pois a sexualidade de cada um é uma questão absoluta e completamente da ordem do privado. Nossas sociedades têm insistido em confundir público e privado e isso tem-nos levado aos maiores casos de barbárie já vivenciados. Nem nos tempos realmente bárbaros não acontecia tantos absurdos como os que temos vivido. E o pior, temos vivenciado as maiores "máscaras" sociais assim disfarçadas de "politicamente correto".
Vivências privadas são o que há de mais importante para um ser. O que dizer de anti-seres que as violam? Violar por dinheiro, poder, ainda pior!!!!
No momento em que #MeToo tem visibilidade, porque essas mulheres são violadas nesta quantidade exacerbada e violadas em função de ganhos com mineração, para celulares. Por quê não têm tanta divulgação de tais acontecimentos no mundo? Por quê será????
Por quê o médico que as atende é perseguido? Por quê precisa de proteção para realizar seu trabalho humanitário? O que falta de humanidade???
Diz Denis que a população mundial deveria exigir a divulgação de relatório da ONU, para criminalizar os responsáveis!!!!!!
Denis relaciona mulheres com cuidado aos filhos, alento e esperança. Diz que tais seres devem ser protegidos para que a humanidade possa crer em futuro, em dias de amanhã.
Crimes de guerra, crimes de ódio NÃO PRESCREVEM. TORTURA NÃO PRESCREVE. Tais crimes se dão contra a humanidade e, como tais, devem e precisam de responsabilização, de criminalização. De Justiça e Reparação, sob pena de perdermos o pouco que nos resta, que nos identifica. Não há paz durável sem JUSTIÇA!.
Não se sacrifica a Justiça por nada, nem mesmo por fragmentos de Paz, paz mascarada!!!
SER MULHER É SER RESPEITADA COMO TAL!. Devemos valorizar as mulheres contra o patriarcado e pela igualdade de gêneros!. Assim podemos ainda pensar em uma verdadeira sociedade, onde o respeito e a dignidade estão acima de tudo, onde a justiça ainda pode ser considerada como um bem maior e a ética um bem precioso e cultivado.
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069