Guilherme Reolon de Oliveira
“Sextou!” e “Segunda, mais uma
semana, vamos lá!” são expressões que denunciam insatisfação com o trabalho e o
traduzem como algo sacrificante, difícil, ruim, desgastante. Quantas vezes não
as ouvimos, ou mesmo as pronunciamos? Algo está errado. O trabalho é próprio da
ação humana, passamos mais de um terço de nossas vidas em atividades que, em
maior ou menor grau, são essenciais para a sociedade, e para nós, qual seja nosso trabalho.
Neste contexto, nos últimos cinco
anos, um movimento vem acontecendo em empresas da Europa e dos Estados Unidos,
com a contratação de filósofos (cuja formação em humanidades é um diferencial,
frente à saturação de profissionais com MBA) e a criação de departamentos de
Felicidade nas organizações. Instituições que aderiram à ideia e implementaram
cargos como Corporate Philosopher e Happiness Manager já percebem mudanças
significativas e efetiva Transformação Digital, cujo cerne é a melhoria da
qualidade de vida das pessoas, e não a tecnologia.
Cabe destacar que ser feliz é um
processo de autoconhecimento, de tomada de consciência de suas singularidades
(suas potencialidades e seus limites) que, por sua vez, está ligada à gratidão,
à esperança, a experiências satisfatórias, à capacidade de lidar com
dificuldades. No trabalho, as pesquisas apontam que a felicidade está
relacionada a dois aspectos: resultados (o reconhecimento de suas ações) e
relações (entre colaboradores, com a chefia, relativas ao sentimento de
pertença de grupo). Nesse sentido, a remuneração corresponde apenas a 12% do
que motiva os colaboradores a ir trabalhar. Ser valorizado, poder aplicar
ideias criativas, ter equilíbrio entre vida pessoal e vida profissional, poder trabalhar
em um ambiente que promove relações autenticas e que permite o desenvolvimento
pessoal são muito mais importantes e exemplos de salário emocional. Em suma, o
sujeito é feliz no trabalho quando vê sentido em sua ação (em tempos,
inclusive, de fragmentação das atividades com a terceirização) , quando tem um
propósito, alicerçado em projeto de vida e práticas do cuidado de si.
Sob este foco atuará o filósofo
na empresa, especificamente na cultura organizacional. Este profissional terá
como base os valores, a missão e os princípios da instituição, possibilitando
que estes sejam incorporados efetivamente. A partir de diferentes métodos e
teorias filosóficas, o CP proporá questões que passam desapercebidas,
especialmente entre as lideranças, tendo em vista que ações se tornam
automáticas na correria do dia-a-dia: a reflexão, assim, pode tomar o lugar do
fazer mecanizado, ora tornando os processos mais ágeis, ora propondo soluções
para problemas. As práticas ESG (social, ambiental e governança), alinhadas às
demandas contemporâneas de diversidade e inclusão, sustentabilidade, inovação,
ética e responsabilidade social, reputação e marca, compliance e transparência, estão entre as atribuições do CP, além
da felicidade na organização.
O primeiro filósofo a teorizar
sobre felicidade foi Aristóteles, 25 séculos atrás, em sua obra magistral
dedicada à ética. Como filósofo empírico, associou a felicidade à prática da
virtude. Os gregos definiam felicidade a partir do conceito de eudaimonia, traduzido também por
excelência. Talvez, por isso, as pesquisas apontem que colaboradores felizes
são colaboradores mais produtivos, mais criativos. Nesse sentido, empresas que
investem na felicidade dos seus são mais lucrativas. Senão pela inovação e pela
disrupção positiva, este é um bom motivo para a contratação de um filósofo,
seja como Corporate Philosopher ou Happiness Manager.