Guilherme Reolon de
Oliveira
Jornalista, filósofo
e sociólogo, doutorando em Ética e Filosofia Política (PUC-RS)
O choque entre gerações sempre
aconteceu. Recordo que, quando realizávamos reuniões-dançantes (algo que não
existe mais!), a presença dos pais não era muito desejada, afinal, como
pré-adolescentes, almejávamos certa autonomia, totalmente desproposital no contexto
da época. Minha geração (a chamada “millenium”),
contudo, talvez tenha sido a primeira (e a única?) que adora resgatar
clássicos, valorizando o que nos precedeu, e está sempre se atualizando, numa
ânsia pelo novo. Por isso, nosso espanto com o embate com a geração z, ocorrido
nas redes sociais. Fomos acusados de cringe,
algo como ultrapassado, cafona, ridículo, vergonhoso.
Tenho consciência que muito do
que foi produzido, culturalmente, nos anos 90, é hoje questionado. Minha
geração curtia Mamonas Assassinas, Casseta e Planeta, Xuxa, Angélica, É o
tchan!, pagode. Mas criamos a onda retrô,
ou vintage, e adorávamos resgatar
(como ainda o fazemos) músicas, filmes, roupas de gerações anteriores. Não
somos pejorativos com nossos pais e avós, professores e chefes, os valorizamos,
os respeitamos.
Minha geração viveu (vive!) num intermezzo sócio-cultural,
principalmente no que concerne aos costumes. Vivemos a liberalidade dos anos
80/90 em alguns aspectos (e seus contrapesos: posições machistas, homofóbicas e
racistas) e o conservadorismo atual (aparado pelo politicamente correto). Como
geração que fez a transição do analógico para o digital (vivemos o VHS, o DVD e
o streaming; o vinil, o CD, o MP3 e o
arquivo em nuvem; o fax, o e-mail e a mensagem instantânea; o telefone fixo, o
celular e o smartphone; o disquete, o
CD-ROM, o pen-drive; as insipientes redes sociais), também fomos responsáveis
pela transição nos costumes: construímos, abrimos caminhos, para a tolerância,
para vivências menos preconceituosas, para a preservação do meio ambiente
(começamos a falar em espécies em extinção, reciclagem, não desperdiçar água,
não colocar lixo no chão). O espanto maior é que a pecha de “cringe” veio de uma geração que nasceu
sob o signo da diversidade. Como assim?
Vejo minha geração de uma maneira
muito positiva: equilibrada, saudável, apesar de viver “na corda bamba” (nem
sob as rupturas, as revoluções, as adversidades, a força, as censuras e as
formas de superá-la inteligentemente da geração x; nem nascidos plenamente sob
a valorização da diferença e da sustentabilidade). Já que não totalmente
digitalizados, valorizamos as relações presenciais, a atividade física, as
recordações, as amizades de longa data, os parentes, mas também as redes
sociais. Se isso é ser cringe, então
sou cringe, com #orgulhomillenium.
P.S. Observemos que o fanatismo com o uso de gírias e termos
“copiados” de outras linguagens também é um reflexo dos tempos modernos, o
termo “cringe” é gíria do /no
inglês..