"EM TEMPOS DE M E N T I R A UNIVERSAL,

DIZER A V E R D A D E É UM ATO REVOLUCIONÁRIO"

George Orwel
"Quando enterrada, a verdade cresce e se sufoca, ganha uma força tão explosiva que quando vem a tona vai explodindo tudo."

Emile Zola

"Numa obra de arte, o crítico busca o teor de verdade (wahrheitsgehalt), o comentador o teor de coisa (sachgehalt). O que determina a relação entre os dois é esta lei fundamental de toda escrita: à medida que o teor de verdade de uma obra adquire mais significação, sua ligação com o teor de coisa se torna menos aparente e mais interior.

[...] então, somente ele [o historiador, o filósofo] pode colocar a questão crítica fundamental: a aparência do teor de verdade se prende ao teor de coisa, ou a vida do teor de coisa se prende ao teor de verdade?

Pois, ao se dissociarem na obra, eles decidem sobre sua imortalidade. Neste sentido a história das obras prepara sua crítica e aumenta assim a distância histórica de seu poder.

Se compararmos a obra à fogueira, o comentador está diante dela como o químico, o crítico como o alquimista. Enquanto para aquele madeira e cinzas são os únicos objetos de sua análise, para este apenas a chama é um enigma, o enigma do vivo.

Assim o crítico se interroga sobre a verdade cuja chama viva continua a arder por cima das pesadas lenhas do passado e da cinza ligeira do vivido. " Walter Benjamim

"NÃO PERCA TEMPO TENTANDO SER

NINGUÉM EXCETO VOCÊ MESMO,

PORQUE AS COISAS QUE TE FAZEM

UM ESTRANHO SÃO AQUELAS

QUE TE DEIXAM PODEROSO"
PLATT

UMA OBRA SÓ SE TORNA OBRA DE ARTE A PARTIR DA CRÍTICA.


CUIDADO!
ARTE inclui:Dança, Música, Teatro, Literatura,Pintura, Escultura,....., e todo trabalho que dedicamos (pelos nossos TALENTOS) e o realizamos com AMOR (sem inveja, nem dor, nem....)!!!!!!
"UMA FOTO É UM SEGREDO SOBRE UM SEGREDO.

QUANTO MAIS ELA DIZ, MENOS VOCÊ SABE."
D.A.



"A VIDA É UM SONHO.

TORNE-O REAL".
M.T.


"INCAPAZ DE PERCEBER A TUA FORMA, TE ENCONTRO EM VOLTA DE MIM.
TUA PRESENÇA ENCHE MEUS OLHOS COM TEU AMOR, AQUECE MEU CORAÇÃO, POIS ESTÁS EM TODO LUGAR"
A que se presta este blog??????????...............a estabelecer notícias, comentar fatos do cotidiano no e do mundo........elaborar alguma crônica de autoria dos blogueiros responsáveis (que, é óbvio, são maiores, responsáveis, éticos, e nada crianças - embora possuir a leveza das crianças "educadas" não seja nada ruim!!!!!).......realizar críticas, como pensamos não existir nas mídias que temos e vemos..........com, cremos, sabedoria e precisão.........com intuito de buscar melhorias em nossas relações com os seres vivos........e com/para o mundo..........se possível!!!!!!................



Críticas por e pela ARTE ( ESTÉTICA COM ÉTICA - como deve ser!!!! - desde a PAIDÉIA - A BILDUNG - .......ATÉ O SEMPRE!!!!!!!)




EDITORIA RESPONSÁVEL:
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA E
VERA MARTA REOLON

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

Corporate Philosopher

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Filósofo, sociólogo e jornalista, doutorando em Ética e Filosofia Política (PUC-RS)

A Transformação Digital visa à ação humana. E o propósito da ação humana é a felicidade, aquilo que os gregos definiam como eudaimonia, ou seja, a excelência. Pessoas felizes produzem mais, são mais criativas, mais determinadas. Mas a felicidade não é consequência de algo, mas um exercício, um processo, de tornar-se si mesmo, que se baseia no cuidado de si. É descobrir-se: suas potencialidades, seus limites, em suma seu estilo e, em última análise, seu desejo, o que não se vincula ao efêmero ou ao perecível, à posse ou ao poder. Ser feliz, nesse sentido, é uma tomada de consciência, de sentido, a partir da construção de um projeto de vida.

Sob este foco atuará o Corporate Philosopher (CP) e sua variação, o Chief Philosophy Officer, nas empresas. Cabe destacar que algumas organizações já estão criando, inclusive, um Departamento de Felicidade (a pioneira o fez em 2017). Pesquisadores indicam que o profissional responsável por este setor (seja o CP ou o Hapiness Manager), ouve e mede, gere diferente, inova, motiva a cooperação, dá sentido a valores comuns. Pesquisas apontam que a saúde está ligada à felicidade: bons níveis de cortisol, LDL e sono estão intimamente conectados ao bem-estar, à satisfação e, principalmente, ao reconhecimento e valorização de suas habilidades e talentos. Dessa forma, questões como o engajamento, o sentimento de pertencimento ao grupo são importantes no contexto organizacional. O CP, nesse sentido, atuará na Cultura Organizacional, em seus diferentes níveis, especialmente com as lideranças e seu desenvolvimento emocional. Terá como foco os valores, a missão e os princípios instituídos pela empresa, possibilitando que sejam implementados verdadeiramente. A partir dos diferentes métodos e teorias filosóficos (maiêutica, dialética, lógico-analítico, dedutivo, indutivo, fenomenologia, hermenêutica, etc.), o CP proporá questões, que passam desapercebidas diante da correria dos procedimentos internos, para que a reflexão tome o lugar do fazer mecanizado e automatizado, propondo a solução de problemas.

O primeiro teórico que refletiu sobre a felicidade foi Aristóteles, 25 séculos  atrás, em sua obra magistral dedicada à ética. Como filósofo empírico, o pensador associou a felicidade à prática da virtude. Dessa forma, destaca-se que o foco do CP não é apenas a felicidade dos membros de uma organização, mas a ética, ou seja, o que concerne às ações do grupo. A filosofia, antes de uma abstração, algo puramente teórico, nasceu com a finalidade de melhorar a vida das pessoas, por meio do questionamento sobre suas visões de mundo.

Assim, o CP atuará integrando valores espirituais e princípios de negócios, valores democráticos e lucratividade; propiciando aprendizados, bem-estar e crescimento; e assumindo uma posição do que é ética e moralmente correto. Isso tudo a partir do tripé Propósito, Paixão e Valores. Incerteza e mudança, modelos mentais, percepção, pensamento criativo são alguns pontos de atuação deste profissional.

Por isso, o historiador israelense Yuval Noah Harari, em sua obra “21 lições para o século 21” (2019), destacou que Chief Philosophy Officer será a profissão do futuro.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

PÔR DO SOL NO SKY Samuara

 


                O SKY Samuara segue com eventos para bem receber hóspedes e não hospedados no hotel, que serão igualmente acolhidos..

           Além do AL MARE, oferecem um fim de tarde, aos sábados, para curtir com a família (ou mesmo sozinho, porquê não?). Luzes, música, pallets com almofadas, mesas aconchegantes. 




            A esta oferta de evento nomearam Pôr do Sol. 

          Finais de tarde para "jogar conversa fora", descansar, distrair a cabeça da pressão do dia a dia, com boa música, ao ar livre e sem aglomeração. Neste que fomos tinha até exposição de carros antigos.



          Uma prova de que não se deve buscar quantidade (nem seguidores de redes - como muitos creem) de frequentadores, mas qualidade de atendimento.


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domingo, 24 de outubro de 2021

Frutos do Mar em Caxias..Delícias!!!

    




     Caxias do Sul precisava de uma novidade como essa: o SABATO AL MARE. O evento é mais uma iniciativa do Sky Samuara Hotel. O hotel apresenta muito mérito e merece aplausos calorosos pois, tendo espaços amplos e ventilados, em conexão com a natureza, consegue promover eventos sem gerar aglomerações em um momento ainda conturbado da pandemia.

          Todos os sábados, durante temporada sem tempo determinado para acabar, das 12 às 15 horas, o hotel oferece um espetacular almoço de frutos do mar. A ideia surge como alternativa à tradicional gastronomia italiana, não só para os residentes na cidade, mas para o visitante, em um momento que Caxias quer diversificar sua matriz econômica , buscando explorar sua veia turística, como sede do destino Serra Gaúcha. Substituindo o sucesso da feijoada, mais invernal, que era promovida no mesmo horário, o AL MARE tem potencial para se tornar um marco, tendo em vista sua qualidade. Cabe ressaltar que o Sky Samuara trouxe de volta o prestigiado chef que comandou sua cozinha por muitos anos.

         Conferimos o AL MARE no feriadão e nos surpreendemos, já que, mesmo assim,  todas as mesas estavam ocupadas. A recepção, dos queridos Ivo Menegolla e Chirlei Batassini, sempre impecável, com caldinho de peixe, aliada ao atendimento atencioso, tornaram o evento ainda melhor. Música agradável, com teor latino, aclimatou o ambiente. Um destaque, além dos pratos de sabor equilibrado e característico são os drinques preparados na hora por bartender específico.  Pudemos experimentar o Dry Martini e o Mojito, primorosos, bem elaborados,...,saborosos.


        Alguns pratos quentes merecem maior destaque: os deliciosos preparados com bacalhau, camarões, moquecas, pirão, paella.Sem dúvida, o buffet de saladas e pratos frios é uma estrela: terrines, bolinhos e afins, são inigualáveis. Ah! e as sobremesas, como sempre, no Sky Samuara é um caso à parte que valem ser conferidas!








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segunda-feira, 18 de outubro de 2021

Relações (?) 4.0

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Filósofo, sociólogo e jornalista

 

Em homenagem ao meu pai, José Enor Andrade de Oliveira (1961-2021)

 

Nos corredores da Mercopar, atraiu minha atenção a seguinte fala de um expositor: “a gente quer que os filhos saiam das telas, mas a gente não sai”. A dependência tecnológica contrasta com a indústria 4.0. Recentemente, as redes sociais ficaram indisponíveis e evidenciaram a violência travestida de poder. A exposição de robôs na Mercopar ilustrou algo que a pandemia exacerbou: a interação é o que nos torna humanos. Fala-se em patologias, físicas e psicológicas, advindas com o uso excessivo de softwares como Zoom e Google Meet durante este período: socialização corrompida é apenas uma de suas consequências, assim como relações eclipsadas pelo esgotamento da atenção sem filtros requerida pelas câmeras ininterruptas. Pesquisas apontam que crianças ficaram com atraso na fala após o isolamento social; durante a pandemia, pessoas pararam atividades físicas, ganharam peso, estão consumindo mais bebida alcóolica. Em suma, fragilização das subjetividades, esfaceladas pela impossibilidade do reconhecimento do diferente que acontece pelo encontro com o Outro, através do Rosto. Na pandemia, o Rosto foi ora mascarado, ora enquadrado em telas: relações mediadas favorecem não-relações. “Eu falo, tu falas” não significa “nós dialogamos”.

Home office e educação à distância precarizaram interações trabalhistas e educacionais, intensificadas pelo caos dos últimos 18 meses. Poucos corpos, poucas mentes são preparados para conexões mediadas por telas. Sabe-se que custos (não apenas monetários) são transferidos das instituições para as pessoas: direitos rasgados, aprendizados subtraídos. Independente da forma, dos métodos, dos processos, a finalidade do trabalho e da educação é a pessoa. Indústria 4.0 e aprendizagem ativa têm como alvo o progresso do humano, caso contrário incorrem em impostura perversa. Aula não é o mesmo que palestra, sequer apresentação de slides. Show não é sinônimo de live. E trabalho à distância não significa produção real. O encontro é fundamento da ação, logo da ética das relações.

Inovação não depende da tecnologia. Transformação é a interconexão entre técnica e arte. Líderes, por vezes, não são aqueles que têm o poder instituído. Mas aqueles que, por meio do exemplo, agregam, propõem, motivam, promovem mudanças, aliam vanguarda e tradição, são focados e, ao mesmo tempo, abertos, tem um interesse genuíno de aprender e compartilhar conhecimento. Qualidades inerentes ao professor. Na indústria 4.0, estão em conformidade à cultura organizacional 4.0 valores como inclusão, diversidade, sustentabilidade, transparência, responsabilidade social e ambiental.

Voltando ao início de nossa reflexão, mais um ponto merece destaque. Pesquisas apontam que, pela primeira vez, a geração atual apresenta menor QI que a anterior. Especialistas dizem que isso é resultado do uso excessivo de telas. E como está a inteligência emocional dos jovens? Por que será que os executivos do Vale do Silício restringem de seus filhos o uso de computadores, celulares e redes sociais? 

domingo, 17 de outubro de 2021

SERRA VERDE: familiar e acolhedor!

          


          Ex funcionários de um Café Colonial de destaque na  Região das Hortências, Joana Petry e seu marido levaram sua expertise para um negócio próprio. Assim surgiu, em fevereiro de 1998, o Serra Verde Café Colonial, em Nova Petrópolis. 

           Tudo é servido na mesa. E há uma variedade grande de ofertas. De bebidas, a sucos de uva e de laranja, vinhos suave e seco, tinto e brancos, café, leite, chá de maçã e chocolate quente. De salgados: pão de queijo, chucrute, linguiça, mini pizza, polenta frita, pães, frios, bolinho de aipim, conservas, bifes de frango, risoles, geleias e requeijão. De doces: além das diversas tortas e mousses (servidas à parte), merengues, quindim, bolos de diferentes sabores, espécies e formas.














        A proprietária, com vestimenta típica alemã (a música de fundo também era típica), destaca o ambiente familiar e acolhedor, caseiro, como diferencial. O atendimento é personalizado, há sempre o cuidado para manter os pratos cheios, quentes, recém preparados. O Serra Verde está localizado na Avenida principal de  Nova Petrópolis, na saída para Gramado. Vale a pena visitá-los e saborear os pratos elaborados pelos proprietários e, obviamente, não ter a possibilidade de digerir todos, é demais!!


 

GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

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VERA MARTA REOLON

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TERÇA CULT de volta!

        Aos poucos as atividades sociais e de trabalho retornam, passado o momento mais crítico da pandemia e com o avanço da vacinação. O evento TERÇA CULT, realizado mensalmente, promovido pelo clube Recreio da Juventude, é exemplo nesse sentido. Seguindo todas as medidas sanitárias, sua reabertura  foi marcada, no mês de setembro, pela performance "Freddy Rock Star". Havíamos visto o " show", uma homenagem ao vocalista da banda Queen, Freddy Mercury, no Porto Alegre Em Cena.


           Em outubro, o Terça Cult homenageou Elis Regina, através das vozes de Fran Duarte e Tita Sachet, em um show intimista, repleto de clássicos de Tom Jobim, Aldir Blanc, Edu Lobo, Belchior e outros, eternizadas por Elis, talvez a melhor cantora brasileira de todos os tempos (tem outras, mas...). Obviamente que Elis, só Elis, mas o espetáculo foi uma ótima oportunidade de relembrar o repertório intenso e singular da cantora, intercalado por pesquisa histórica sobre as músicas. Mesmo assim e, apesar disso, Elis é, foi e será ÙNICA, inimitável, obviamente (redundante como deve ser)!  


GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

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VERA MARTA REOLON

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sábado, 2 de outubro de 2021

Quem pode julgar, quem tem a condição?

 

Vera Marta Reolon

 

                Vivemos momento pandêmico que nos conduziu  a processos educacionais , necessariamente, em EAD (Educação a Distância) , com o fim de evitar a transmissão do vírus SARS COV 2, ocasionador da  COVID-19. Como o vírus e a doença eram/ainda são, praticamente,  desconhecidos, cientistas do mundo todo saíram em busca de pesquisas para detê-lo. Assim pesquisas e pesquisadores acadêmicos também buscaram adaptar-se em encontros, congressos em EAD., como os atuais, que abordo agora,  sobre questões ecológicas e sobre Hannah Arendt.

                Hannah, aluna de Heidegger , filósofa política na Alemanha , no século 20, período da II Guerra Mundial.  Judia, perseguida pelo nazismo, refugia-se nos Estados Unidos , que a recebem, mas em condições limitantes já que o trabalho que ela consegue é de professora de alemão e com  documentos e passaporte confiscados, logo  sem direitos políticos ou, ao menos, com direitos políticos restritos. Não estava,  pois,  livre, nem mesmo em um país “livre” ou sabe-se, que se diz defensor das liberdades. Ela escreve, se comunica, pesquisa. É convidada por uma revista para reportar o julgamento de Eichmann. Quem é esse? Eichmann é um soldado das bases nazistas seguidor das ordens do Reich.

                Mas Hannah vai dizer que, a partir de Eichmann, quando dizemos o povo, não responsabilizamos ninguém, porque se são todos, um, o responsável, não é responsabilizado. Na busca por justiça  não a teríamos assim.

 Eichmann defendeu-se no julgamento em Nuremberg alegando que seguia ordens, logo não era responsável por seus atos.  Hannah abre discussão sobre esta proposição fazendo-nos pensar:  se somos/estamos praticando atos sob ordens de alguém não conseguimos refletir sobre estas ordens, questioná-las e, quiçá, não as realizar se concluímos que são imorais, injustas ou/e vão contra nossos preceitos éticos? Quando recebemos ordens, mesmo que em situações de guerra, não temos autonomia de pensamento, a perdemos e apenas praticamos atos mesmo que errados, deixando de ser o que chamamos (ou entendemos ser) humanos? Quando somos “mandados” perdemos o cérebro? Seguindo ordens e regras, perdemos nossa identidade, nossa educação, nossa ética? Somos, nos tornamos, zumbis que não pensam?

                O Congresso  “Quem sou eu para julgar?”, organizado pela PUCRS, com apresentação dos pesquisadores sobre Hannah dar-se-á em novembro de 2021  e os artigos resultantes dessas pesquisas serão compilados em livro. É interessante informar-se e ver o que podem dizer também deste nosso mundo contemporâneo!.

domingo, 5 de setembro de 2021

Tradição e Inovação

 

Guilherme Reolon de Oliveira

Crítico cultural, jornalista, filósofo e sociólogo

 

Diz-se que há um embate entre conservadores e progressistas. Nos costumes, acirram-se os ânimos. Mas, refletindo sobre a questão, percebe-se a sua falta de fundamento lógico e de sentido. Afinal, progressistas, à exceção dos revolucionários e anarquistas, são os favoráveis à inovação. Algo que, dado o contexto de época, equivale à atualização e, no extremo, à vanguarda, provocando rupturas, mais rápidas ou mais lentas, mas inerentes ao passar do tempo.

Inovação. In, introduzir, colocar dentro, uma ação nova: ação de introduzir algo novo. A inovação não nega, não destrói o que há, o que foi construído, o passado. O progressista não é, assim, contrário ao conservador, posto que não anseia ignorar o que se conserva, o que se mantém, mas introduzir fato ou ação nova: oxigenar, para não mofar, não apodrecer.

Algo como o vestido das candidatas à rainha da Festa da Uva nos ensina a respeito. O vestido produzido pela Rico Bracco para a princesa Bruna Mallmann foi criticado por pesquisadora de vestimenta, acusado de ignorar a história dos vestidos das soberanas, a tradição. Quanto equívoco! Tradição não pode ser algo estanque, “mumuficado”, ou incorre em contrariedade às suas origens, como dizia Husserl: “a tradição é o esquecimento das origens”. A própria Festa sempre inovou: de elitizada à popular, dos clubes sociais às torcidas organizadas. Qual o propósito do vestido referido? A imigrante, a colona (o cerne referencial das soberanas) não vestia brilho, saias de armação, cetim.

A tradição não pode afirmar-se numa destemporização, mantendo-se sem um auto-questionar-se constante. Concordamos com Vitor Ramil: “para estar viva, a tradição deve estar justificada na expressão contemporânea – e ela estará justificada mesmo que o novo represente uma ruptura”(sic). A tradição não deve ser um peso a ser suportado, nem um amontoado de fórmulas a ser repetida. O compositor destaca que “assumir um personagem para afirmar a própria identidade é, na verdade, fragilizá-la”(sic). Orientar a tradição, desapropriando o popular é uma violência.

A criação de Fabrício Gelain é o oposto disso. Valoriza o passado, a mulher, visibiliza suas dores, suas marcas, suas verdades. E o mais importante, funda-se no passado, mas o atualiza, para o contemporâneo (suas preocupações, seus temas, o empoderamento do feminino) e para a realidade daquela que o veste, não incorrendo em estereotipia e personagem.

A inovação, sem ignorar a tradição, é a chave para práticas alinhadas ao contemporâneo. Gelain o fez brilhantemente nesta criação e a Festa da Uva acertaria se solicitasse ao artista a idealização e a produção dos vestidos oficiais das soberanas.

Desse modo, também nas empresas, a inovação é algo necessário. Porque ensina a valorizar o fundamento, a origem, o alicerce, introduzindo novos métodos, novos modos de fazer, novos ares em ambientes que requerem oxigenação, afinal as pessoas são o que as movem, são e serão sempre o cerne das organizações.

domingo, 29 de agosto de 2021

Identidade e estilo na Rico Bracco

  Identidade e estilo na Rico Bracco


A marca surgiu como homenagem ao avô, Henrique (por isso Rico) que trouxe um cão, quando da última leva de imigrantes italianos – Bracco era seu cão de caça. Assim, Rico Bracco. A família de Fabrício Gelain (que não se considera estilista, mas artesão) é uma constante em seu trabalho, sua grande inspiração (tios, avós), que é menos visual, mais ligada à memória e aos sentimentos que dela derivam. “Vejo as peças como auto-retrato”, destaca. Em cada criação, há uma busca por suas origens (estritamente relacionada às questões da imigração italiana, o trabalho, o escasso lazer, as diferenças de gênero, afetos e desafetos, valores e dogmas, o ”sexismo”). São propostas de reflexão, quase textos filosóficos do vestir.

Nova Treviso, localidade no interior de Nova Roma do Sul, onde a família de Fabrício se instalara e onde este passava os fins-de-semana, também está presente, em cada criação, em cada conceito empregado. A avó era costureira e, embora dissesse “Não mexe na máquina”, isso atraiu o neto (ou talvez mesmo por isso!). Gelain foi menor aprendiz no Senai, concluiu curso de costura e modelagem. Depois, na graduação, optou por Design de Moda. Ainda durante o curso, a convite, ministrou aulas de alfaiataria para seis professores na Universidade de Guadalajara (México). Assim que se graduou, inaugurou sua marca, inicialmente fazendo roupas de festas sob medida.

Não identificado com essa vertente e em busca de um estilo próprio (ligado ao conhecer-se, ao tornar-se si mesmo), e sob a influência da estética japonesa, foca em criações atemporais, mais puristas, de linhas simples, que vistam vários corpos, respeitando suas diferenças. A valorização da singularidade é evidente na produção da Rico Bracco: liberdade de movimento, conforto, apuro no design (da concepção ao produto final) são transmitidos em cada detalhe. O apuro do olhar e do fazer, ou seja, o equilíbrio entre talento e técnica, que é tão caro a Fabrício, tornam suas criações obras de arte. Em cada peça, há um preciosismo e o objetivo do artesão, que é fugir da coisificação, atento mais ao fator simbólico da roupa (como expressão, comunicação), é atingido pelo corte bem executado e o acabamento impecável. Costuras quase imperceptíveis, cuja face usável da peça e seu verso são muito semelhantes. O linho é a matéria-prima, com fibras mais longas, teares com menos mão-de-obra, importado da China, da Bélgica e da França (cuja qualidade é indiscutível). Nada é aleatório, tudo é fruto do trabalho, seja ele manual, técnico ou intelectual, juntos, sempre!

 REMANESCER

A coleção 2020, intitulada Remanescer lançada em evento restrito a alguns convidados (devido à situação pandêmica), em 19 de outubro de 2020, na Galeria Municipal de Arte Gerd Borheim, remete ao feminino colonial. No lançamento, em que as roupas permaneceram suspensas, sempre visíveis, enquanto uma performer “deu vida” ao conceito, percebeu-se o primor pelo significante em detrimento ao significado. O gesto da/na interpretação é original, logo individual.

A atmosfera do evento era vermelha, porque visceral, contrastando com as peças fluidas, leves e brancas (e a ligação conceitual com o trigo). O linho-seda e o linho-puro, com ou sem bordados, contrastando com o pesado da foice, presente na performance/dança.

O artesão fala de renascimento e repetição. De leveza, tão necessária aos nossos tempos sombrios. Por isso, alfaiataria tradicional (o clássico) e desconstruída (o novo). A performance, porque “pela forma”, permite conteúdos diversos, obra aberta. Assim, o movimento da bailarina pode remeter ao trigo, de início semente, dura, depois crescida, estruturada, leve (movida pelo vento), fonte de/da vida (na tradição católica), de alimento e do vestir. Pode remeter também à mulher, presa no mundo masculino, com desejos de libertação. Um corpo endurecido (pelo sofrer?) rumo à fluidez. Ainda que fluida, não abandona o trabalho, o embalo, o sorriso. Retorna ao princípio: equilibrada, flutua... Afinal, a foice é só trabalho, ou instrumento de artista? O trabalho que transmuta em arte.

 

TRANSMUTARE

A memória, tão presente no estilo da Rico Bracco, torna, retorna, materializa, simboliza, concretiza, representa. Porque é constitutiva. A memória é a ligação do sujeito com o Outro, com a alteridade: imagens estruturantes  dizendo o que somos, de onde viemos, o que fizemos com o que fizeram de nós. Por isso, são (e ao mesmo tempo não são) retratos de acontecimentos. São o resultado de nossa interpretação, mediada por sentimentos, sensações, percepções, racionalizações, de fatos, marcas.

A Transmutare, nova coleção de Gelain, que surge como esperança, diante do horror pandêmico (a Remanescer era resistência, a Transmutare é memorial, é renascimento, buscar o que de bom havia antes), mas sob um olhar que nunca será o mesmo, porque aterrorizado, traumatizado. Segundo  o artesão, é “renascer das cinzas”. Cinza aqui também é memória: de onde viemos, para onde iremos... remete ao trabalho, do avô, uma grande referência, desde a concepção da marca. Tabaco que também faz parte da própria vida de Gelain, de uma oralidade frente à ansiedade. A transmutação é conceito-chave não apenas dessa coleção, mas do trabalho da Rico Bracco: da pureza do linho nasce a obra de arte, impregnada de um conhecer-se, de um tornar-se si mesmo, que valoriza o passado, as origens, mas não deixa de contemporaneizá-los. Transmutação por ressignificação, através de um trabalho crítico relativo ao patriarcado, à submissão das mulheres, sofridas, calejadas. Por isso, ora peças sem gênero, ou melhor, que abarca todos os gêneros, ora peças que valorizam as especificidades daqueles que as vestem: cobrir e descobrir, modelagens amplas, limpas, sem rebuscamentos (ou com eles, porque não?).

A Transmutare virá a público no próximo EcoFashion, em Milão. A Rico Bracco será uma das oito marcas que representarão o Brasil no evento, depois de passar pelo crivo de duas edições nacionais, cuja exigência para participação já é alta: há critérios bem estabelecidos em sustentabilidade. Na última edição brasileira do evento, participaram 68 marcas.

 

ATELIER/MAISON   

                Conhecemos a Rico Bracco em julho de 2020 em espaço que Gelain dividia com a prima (consultora de estilo), uma sala comercial na Dr. Montaury. O ateliê era pequeno e não condizia com o potencial do artesão.

                Uma alegria saber da mudança para a casa na Guia Lopes, e muito mais ao conhecê-la. O atual ateliê de Rico Bracco é amplo, arejado, com diferentes ambientes e lembra as grandes maisons europeias. Muito coerente com o trabalho e a proposta de Gelain.

                Os detalhes – sempre! – são significantes. Não apenas nas roupas produzidas pela marca. A recepção apresenta icônicos chapéus de palha e um show room. Em uma sala anexa, um espaço de convivência, com cadeiras idealizadas pelo artesão e uma mesa onde Gelain, carinhosamente, oferece chá para o visitante/cliente, servido nas cerâmicas, também criadas em parceria por ele.




                Há ainda a sala de provas, a sala de tingimento, e até o banheiro foi pensado de modo a congregar os conceitos/ideias da marca. No andar superior, um sótão que congrega o escritório do artesão e o ateliê propriamente dito. A casa, como as maisons, tem tudo, inclusive, para abrigar desfiles, lançamentos de novas coleções.

 





 

TRADIÇÃO E INOVAÇÃO

                Não podíamos deixar de retornar à Rico Bracco depois de saber de sua icônica criação e produção do vestido da então candidata à rainha da Festa da Uva 2022, Bruna Mallmann, eleita princesa em evento recente (comentado por nós na editoria Eventos).












Nossa surpresa maior é que o vestido foi criticado por pesquisadora de vestimenta, acusado de ignorar a história dos vestidos das soberanas, a tradição. Quanto equívoco! Tradição não pode ser algo estanque, “mumuficado” , ou incorre em contrariedade às suas origens, como dizia Husserl: “a tradição é o esquecimento das origens”(sic). Qual o propósito da Festa da Uva, e especificamente do vestido referido? A mulher, a colona, o cerne referencial das soberanas (e de todas as candidatas, desde sempre!) não vestia brilho, saias de armação, mangas bufantes,  cetim e lamê.

A tradição não pode afirmar-se numa destemporização, mantendo-se sem um auto-questionar-se constante, cerne da busca por um estilo  singularizado. Concordamos com Vitor Ramil: “para estar viva, a tradição deve estrar justificada na expressão contemporânea – e ela estará justificada mesmo que o novo represente uma ruptura”(sic). A tradição não deve ser um peso a ser suportado, nem um amontoado de fórmulas a ser repetida. O compositor destaca que “assumir um personagem para afirmar a própria identidade é, na verdade, fragiliza-la” (sic). Orientar a tradição, desapropriando o popular é uma violência.

A criação de Gelain é o oposto disso. Valoriza o passado,  a mulher imigrante, a mulher colona, visibiliza suas dores, suas marcas, suas verdades. Retoma suas roupas originais, seu vestir/desvestir. E o mais importante, funda-se no passado, mas o atualiza, para o contemporâneo (suas preocupações, seus temas, o empoderamento do feminino) e para a realidade daquela que o veste, não incorrendo em estereotipia e personagem (com a muito vem se fazendo com os vestidos das candidatas).

Vestido de Rico Bracco foi produzido com tecidos  biodegradáveis, tingidos com pinhão (araucária como a árvore nativa da região!). Complementam a criação, o trabalho da bordadeira local Catelini Padilha, a tela de seda-linho da Casulo Feliz e o macramê de Ana Casara. O abotoamento orgânico, com detalhes da vida de Bruna, as pregas, os bordados, o design (que lembra também o desnudamento), tudo está em harmonia, em equilíbrio criativo.

A inovação, sem ignorar a tradição (as origens, incluindo a vestimenta, por exemplo, de Adélia Eberle, a primeira rainha da Festa) é a chave para práticas alinhadas ao contemporâneo. Gelain o fez brilhantemente nesta criação e a Festa da Uva acertaria – e muito! – se solicitasse ao artesão a idealização e a produção dos vestidos oficiais das soberanas.














GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA

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VERA MARTA REOLON

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Fotos by@GuiReOli

 

Fotos de Bruna fornecidos pelo Designer de Moda