Guilherme Reolon de Oliveira
Consultor em gestão da
felicidade nas organizações, Corporate Philosopher, Doutor em Filosofia
(PUC-RS)
As notícias esportivas, na
última semana, foram invadidas por questões de ordem moral: Gabigol, Robinho e
Daniel Alves não estiveram nas manchetes por seus feitos no futebol, mas por
condenações na área criminal, como fraude do exame anti-doping ,
estupro e violência sexual. Por corrupção financeira já vivenciamos em nosso
estado o caso de Ronaldinho Gaúcho, mas são exemplos entre muitos.Constantemente,
casos de racismo também são presenciados nos estádios.
Em contraste, alguns
campeonatos, ao redor do mundo, estão aderindo à ideia do Cartão Branco, que
difere dos tradicionais cartões amarelo e vermelho (cujo propósito é a
punição). O cartão branco não funciona como advertência ou expulsão, mas como
reconhecimento por atitude positiva. Incentiva o fair play, o
jogo limpo. O cartão branco é mostrado ao jogador quando este age com
esportividade, em atitudes como admitir falta cometida ou reconhecer erro de
arbitragem.
Quando se fala em fair play,
a referência são valores fundamentais que devem ser aplicados em qualquer competição,
como o respeito, a ética vivenciada em atitudes positivas e centradas em
princípios fundamentais. A campanha Respect, nesse sentido,
promovida pela UEFA, foi significativa para inclusão, diversidade e
acessibilidade no esporte. Seu emblema, presente em bandeiras e, especialmente,
nos uniformes dos atletas, deu visibilidade a essas questões.
Alguns poderão argumentar que
atitudes no campo são uma coisa, e comportamentos fora dele são outra. Nada
mais incoerente: o sujeito não é dividido, e as vidas pessoal e profissional
são inseparáveis, ainda que a ilusão da divisibilidade seja frequente. O
sujeito é uno, assim como sua personalidade e sua ética (a base da ética está
no sujeito desde os gregos!).
O comportamento é algo de
fundamental importância no esporte. O trabalho desenvolvido em Portugal, com o
embaixador do Plano Nacional de Ética no Desporto, Jorge Humberto Dias, é significativo
nesse sentido, e referência para minha atuação como filósofo dentro de
organizações as mais diversas. Diferentemente do psicólogo do esporte, o
filósofo propõe às equipes questões que passam desapercebidas: quem somos, o
que fazemos, como superamos? Em outras palavras, mover-se por valores, tais
como amizade, espírito de equipe, disciplina, respeito (a equipe é mais do que
a soma de indivíduos). O que quero, o que posso, o que devo fazer, como
resolvemos isso a partir de nossas individualidades para formar um bloco único?
Na Inglaterra, o Plano de
Desempenho de Jogadores exige o estabelecimento da Filosofia do Jogo,
para o desenvolvimento dos atletas, desde a formação, nas categorias de base.
Hoffenheim, Tottenham e Ajax, por exemplo, estão interessados em desenvolver,
em cada atleta, a motivação para jogar em seus times específicos, e não em
outro qualquer.
Cristiano Ronaldo afirmou, em
entrevista, que seu segredo é “preparação”, associada à “ética no trabalho”,
destacando equilíbrio psicológico, motivação, realização profissional e,
principalmente, felicidade, como fatores de sucesso. Nesse sentido, cabe
lembrar que a Felicidade, além dos valores éticos, é o grande foco do filósofo,
em equipes esportivas. Felicidade, não como sinônimo de prazeres atingidos, mas
de “ser com excelência”, a partir do autoconhecimento e do cuidado de si para,
como nos diz Foucault, a partir do governo e cuidado de si podermos atingir o
governo e cuidado dos outros.
O atleta, amparado no
conhecimento de si, seus diferenciais, seus pontos fortes e fracos, suas
habilidades e limites, o que deseja de fato, terá maior segurança de si,
apresentando importantes subsídios para lidar com dificuldades dentro de campo.
As academias de formação de
atletas, na maioria dos clubes europeus, estabelecem seis atributos-chave de
desenvolvimento, que se influenciam mutuamente. Tática, técnica e capacidade
física correspondem apenas a 50% deles (aqui trabalho técnico é essencial).
Outra metade, de igual relevância, são as capacidades emocional e mental, bem
como o estilo de vida do atleta. Cabe ao filósofo nas organizações (e no
esporte é um dos campos essencial) o desenvolvimento desses últimos aspectos,
em cada atleta, que reverberarão em boas práticas individuais, como
sustentáculo de equipes mais coesas, integradas, conectadas, inspiradas e
confiantes. Até porque “o talento vence jogos, mas só o trabalho em equipe
ganha campeonatos”, como bem lembrou Michael Jordan.