Guilherme Reolon de Oliveira - MTb 15.241
Crítico cultural, filósofo, sociólogo e jornalista
Fui convidado e tive a honra de
contribuir com capítulo para a obra “Diagnóstico do tempo: implicações éticas,
políticas e sociais da pandemia”, recém lançada pela Fundação Fênix. O livro,
em formato e-book, está disponível para download gratuito, a todos os
interessados, no site da editora especializada em obras acadêmico-científicas.
Trata-se, como o título anuncia,
de um diagnóstico do presente, das implicações a que todos, em escala
planetária, fomos submetidos neste ano tão atípico, diante de um organismo que
poderia ser classificado, segundo minha percepção, como terrorista,
etimologicamente falando. Passados quase doze meses do início da pandemia (no
Brasil, mais de nove meses), ainda nos deparamos com um vírus cujas
consequências são imprevisíveis, para o qual não há tratamento especifico – e
contra o qual só resta a esperança da vacina (emergencial, cujas implicações
também são incertas: não me refiro à eficiência e à segurança, mas ao
tempo de imunidade que propiciará).
A obra, assim, é daquele tipo que
pode ser entendida como “urgente”, ou seja, escrita “no calor do momento”,
quase como uma necessidade, senão para entender o fenômeno em sua totalidade (o
que, até o momento, parece impossível), mas para compreendê-lo em suas nuances,
do que podemos depreender enquanto acontecimento, evento, portanto sintoma de
um contexto mais amplo.
Com caráter interdisciplinar, o
livro reúne pesquisadores de diferentes instituições, universidades, públicas e
privadas, com formações diversas. São inúmeros os temas ali presentes (em 38
capítulos): reflexões sobre o confinamento, sobre os processos educativos
(concentrados no modelo EAD), a saúde propriamente dita (e como cuidado de si e
dos outros), as desigualdades sociais e de gênero (escancaradas com a
situação), a espetacularização do fenômeno, a normalização da vida danificada,
o papel da arte neste contexto, as consequências no direito trabalhista (com
legislações criadas às pressas), o fato político (exacerbado pelo evento),
questões como sentido da vida, medo, esperança e tragédia.
Uma obra que, por ser escrita
durante o acontecimento, como tal deve (e precisa!) ser lida: como diagnóstico
de um tempo que, parecia-nos, ia durar pouco, nos surpreendemos com sua
persistência e, precisamos admitir, não cessará tão logo.