Guilherme Reolon de Oliveira
Jornalista, filósofo
e sociólogo, mestre em Psicologia Social, doutorando em História, Teoria e
Crítica de Arte
Entende-se, é
uma questão cultural da cidade, ainda presa à noção de que o novo é necessário
e o antigo é sinônimo de ultrapassado: o novo é progresso e o antigo remete ao
passado de miséria e dor. Em outras palavras, derrubar (o velho) e construir (o
novo) é reviver nosso mito fundador: deixar o Velho Mundo (a Itália, a
pátria-mãe) rumo ao Paese di Cuccagna,
território de abundância e aberto a tudo que é novo, logo ao progresso, já que
inóspito. Derrubar (árvores) para construir (casas, comércio, prosperidade)
transformado em derrubar (construções velhas) para construir (construções
novas), aquela necessidade de provar (a si mesmo) que é capaz de
autossuperar-se, mostra-se, ao contrário, insustentável e volta-se contra nós
mesmos: sem passado e sem história nada somos e, com isso, destruímos a nós
mesmos. Sem falar na questão contemporânea da preservação da natureza.
Estranho que
um projeto concebido na UCS, o ECIRS, cuja execução e cujo desenvolvimento foi
importante para a valorização de nossa história, tenha conseguido um feito
memorável em outra cidade (a preservação do centro de Antônio Prado) e, em
Caxias do Sul, sua sede, pareça fraco diante de outras forças (apenas
econômicas?). Nossa cidade tende a não valorizar o que é seu – pois tudo que é “de
fora é melhor”! Outro dia, lendo sobre uma conversa entre Pablo Picasso e Henri
Matisse, dois dos maiores artistas da vanguarda do século XX, na qual aquele
associava a situação da arte à época ao transcurso da Segunda Guerra Mundial, e
pensando em questões como as que mencionei antes, não pude deixar de constatar:
também nosso descaso com o que construímos – e deve ser preservado, para ser
rememorado – é fonte de nossa s mazelas (e não apenas a “crise”, como se
propaga!). O que fazemos com aquele conjunto habitacional tão harmônico com a
natureza que era a Chácara dos Eberle e seu entorno, próximo à Prefeitura? O
que pensam fazer com a antiga sede campestre do E.C.Juventude, um pulmão para a
cidade? E o que dizer da histórica vinícola que será transformada em
condomínio? Cabe ressaltar que pesquisa do Departamento de Sociologia da UFRGS
apontou que já há imóveis suficientes construídos para todos habitarem,
inclusive aqueles que estão nas ruas: para que, então, construir mais?
Associado a isso: como nos relacionamos com o Acervo Municipal de Artes
Plásticas? Qual o estado de nosso Museu Municipal e o que (apenas) ele
preserva?
Importante
ação a da UCS em acolher o Instituto Bruno Segalla em seu Campus 8, mas dada a
sua condição no ambiente (espaço destinado) isso quase se esvazia. O IBS, por
ser talvez nosso maior patrimônio artístico, merece muito mais, assim como o
mencionado AMARP, tão ignorado! A Chácara dos Eberle, com seu extinto oásis natural,
por exemplo, seria um espaço que deveria ter sido assumido pela Administração
Municipal como importante local de arte, para acolher e abrigar nossa arte,
como aconteceu com o MARGS, o Santander Cultural e a Casa de Cultura Mário
Quintana em Porto Alegre, como está sendo feito com o antigo prédio do Banespa
em São Paulo. Os grupos empresariais devem investir em tais iniciativas,
fazendo do IBS e do AMARP pontos de referência e visitação, à semelhança do que
foi feito com a Fundação Iberê Camargo na Capital do estado. Somos pioneiros e
tradicionais em moda e em dança (o curso de Design de Moda da UCS e a Cia
Municipal de Dança estão aí para prová-lo) – isso também deve ser preservado,
exposto e rememorado de alguma forma, com Memoriais ou algo do gênero. Precisamos urgentemente disso! Temos, ainda, espaços para isso. A antiga Sede
Social do Clube Guarany, hoje incorporado pelo Recreio da Juventude, e a MAESA
são exemplos disso! Como entoaram os Titãs: “A gente não quer só comida, a
gente quer comida, diversão e arte”. Caxias precisa respirar arte para ter
vida. Não é só desejo, nem vontade, é necessidade!