BORDERTOWN
Um dos diversos méritos da Netflix é propiciar o contacto com as diferentes culturas, apresentando o que há de melhor na globalização. Com o videocassete e o DVD, o acesso às produções estrangeiras era restrito, quando muito, às francesas e italianas, soterradas pelas norte-americanas. Com a Netflix a diversidade veio a tona. Exemplos são as produções escandinavas, que nunca chegavam por aqui. Pois veio Bordertown, série muito boa, policial, investigativa. O protagonista lembra Sherlock, com toques de excentricidade, técnicas próprias de observação. Há uma crítica à politicagem das pequenas cidades, com seus segredos, sua corrupção. Uma ótima oportunidade, inclusive, para conhecer a paisagem escandinava, seus costumes, comportamentos, cultura. AH.......e a neve....branquinha!!!!!
IL PROCESSO
A série italiana, relativamente curta, é rápida na narrativa, nada cansativa, ainda que se passe quase exclusivamente em um tribunal. A premissa é simples: uma garota é morta em local elitizado, com pouca circulação. Rapidamente descobre-se que é garota de programa, filha da promotora de justiça e estava grávida de seu agenciador. Este, membro de família poderosa da localidade. Os fatos vão se desenrolando aos poucos, porém com agilidade. Há uma reviravolta surpreendente no final, excelente!.
NOITE A DENTRO
Quase uma ficção científica, o enredo da série belga parte de uma premissa estranha e praticamente inverosímel (ou talvez não! - principalmente se levarmos em conta os descrentes dos processos de retirada da camada de ozônio e aquecimento global da Terra): o sol está matando. Ainda assim, o fluxo narrativo é rápido, os poucos episódios são também curtos, a narrativa cativa. O espectador, assim como os personagens, que se mostravam descrentes no início, vai sendo convencido pelos acontecimentos. O espaço em que se passa a história, um avião, e o número reduzido de personagens, com perfis delimitados, que permitem diferentes identificações contribuem para manter a atenção - e a angústia - do espectador. Suspense bem estruturado, termina com uma deixa prontinha para segunda temporada.
MULHERES DA NOITE
Um grupo criminoso com diferentes frentes de atuação - prostituição, narcotráfico, etc... - todos usados para lavagem de dinheiro obtido ilicitamente - é o pano de fundo. Dramas familiares não resolvidos, uma protagonista que se enreda terrivelmente na corrupção, enquanto o marido busca, politicamente limpar a "sujeira" e a contravenção na cidade, descobrindo que a mãe, considerada morta pelos males que lhe causou, é a grande chefe do crime. Um thriler psicológico bem estruturado que evidencia as artimanhas entre os dramas internos dos personagens e o contexto que os cercam: subjetividades traumatizadas que facilmente se estilhaçam diante de uma sociedade pronta para arrasá-las ainda mais.
HOLLYWOOD
Do mesmo criador de Glee, Versace e The Politician, é marcada pela mescla de ficção e realidade, uma vez que se passa em uma efervescente Hollywood pós guerras em que surge o galã Rock Hudson. O glamour cinematográfico produtor de sonhos é o mote, assim como o desejo de ser ator, de preferência protagonista. Bem como a série mostra o que muitos do #MeToo tentaram esconder do início de suas carreiras, delegando apenas a produtores e diretores o que muitos atores ávidos pela fama sempre fizeram. Até conseguir alcançar seu objetivo, uma série de artimanhas, percalços, caminhos tortuosos (e nem sempre moralmente "dignos"). A série é leve, com o colorido característico do roteirista, e o toque de humor ácido aliado a um drama construído também de forma leve. Destaque também para a harmônica mescla de atores jovens e veteranos. E para a idealidade - que sequer acontece hoje, muito menos nos anos 1950 - da valorização de todos os espectros sociais, inclusive minorias.
TRÊS METROS ACIMA DO CÉU
Roteiro, locações e atuações muito parecidos com a novela adolescente Malhação e os tradicionais filmes juvenis de praia (lembrando até mesmo os de Elvis). Com narrativa previsível, decepciona um pouco. Ainda assim, vale pela belíssima paisagem (um pequeno paraíso da italiana Ravena), pelos diálogos mais introspectivos e pela trilha sonora (que intercala clássicos italianos, músicas mais contemporâneas e um jazz revisitado - este belíssimo e muito bem tocado!). Estes fatores já são suficientes para maratonar essa série leve e ágil.
DISQUE AMIGA PARA MATAR
Dificilmente uma segunda temporada mantém o ritmo inicial, ainda mais quando se fala de uma comédia dramática. Disque Amiga... é rápida na narrativa e apresenta uma dupla de atrizes impecáveis na atuação (e que conseguem fazer "liga"). Todos os episódios - curtos - são surpreendentes e prendem a atenção do espectador que ansia em saber o que virá. A premissa é interessante, as narrativas paralelas complementam e ajudam a sustentar a principal. O gostinho de "quero mais" para próxima temporada, não ofuscou o fechamento da que encerrou, o que raramente acontece.
VALERIA
A série espanhola parece um revisitado de Sex and the City, transformando todas as amigas em uma estereotipia da personagem Samantha, da série norte-americana. Há muito sexo, poucas reflexões sobre relacionamento (também aqui plágio de Cinquenta Tons), que só acontecem, tangenciadas, nos últimos episódios. Ainda assim, a série prende o espectador, que torce pelo encontro da protagonista com Vitor. A "deixa" para uma segunda temporada fechou o último episódio com caminhos abertos para todas as personagens. Interessante a reflexão nas entrelinhas, sobre o mercado de trabalho para artistas, especialmente escritores: seguir seu sonho ou procurar um emprego que o sustente.
DEZOITO PRESENTES
Belíssimo este filme italiano, emocionante mesmo. O enredo surpreende e estabelece o clímax no momento ideal (a Netflix poderia aprender com isso e, ao invés de fazer séries intermináveis e alongadas para manter público, preparar um filme melhor trabalhado e, quiçá, mais barato!). Premissa interessante, boas atuações e roteiro bem estruturado contribuem para a construção de uma narrativa dramática e emotiva. O equilíbrio do enredo acontece com toques de humor, assim como a rebeldia adolescente, balanceada no desenrolar da história - que fica na surpresa para quem quiser ver.
MERLÍ
Excelente esta série catalã, que retrata um singular professor de filosofia, seus alunos, suas relações, problemáticas pessoais e familiares, seu contexto escolar. Os episódios até poderiam ser mais curtos, mas a narrativa é rápida, leve e contagiante (a terceira temporada perde um pouco este caráter, indo da comédia ao drama). Roteiro que aborda diferentes questões dos estudantes do ensino médio e do sistema educacional: sexualidade, gênero, socialização, sofrimento psíquico, amizade, bullying, drogadição, amadurecimento, relacionamentos. Até mesmo metodologia de ensino. Em época de desvalorização da filosofia e das humanidades em geral, a série é um alento à educação.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
VERA MARTA REOLON
MTb 16.069