Guilherme Reolon de Oliveira
Corporate Philosopher, Consultor em Gestão da Felicidade Organizacional,
Doutorando em Filosofia (PUC-RS)
Quem sou eu? Para responder a esta questão, alguns recorrem à profissão, às
características (qualidades e defeitos), a fatores como “ser mãe” ou algo do
gênero; fala-se de idade, altura, peso, nacionalidade, etnia, gênero,
orientação sexual. Focamos em um ou dois aspectos, quando, na verdade, somos
frutos da conexão de todos esses – e muitos outros –, de contingências,
contextos, genética e ambiente, história pessoal e familiar, desejos e traumas.
Em suma, a identidade se constrói (e se reformula, constantemente) através de
memórias e prospecções de futuro, além de uma sedimentação e ressignificação de
um passado, relativas ao si mesmo em relação ao outro, numa rede de
diferenciações e identificações com a alteridade.
O conhecimento de si, ou autoconhecimento, é um dos sustentáculos do Programa
de Gestão da Felicidade, método que desenvolvi e desenvolvo como consultor (a
partir de minha pesquisa de doutorado), visando à felicidade e o bem-estar
organizacional (mas não só!). Assim como, por vezes, denegamos o cuidado de si,
ignoramos de nos conhecer, também nosso desejo, alienados ao que esperam de
nós, por motivos diversos. Ser feliz, como processo de tornar-se si mesmo, está
intrinsicamente ligado ao autoconhecimento, e reverbera no nascer efetivamente.
Ser feliz é descobrir-se: ter consciência de seus potenciais e suas limitações;
traçar objetivos; persegui-los com coragem para mudar o que pode e força para
suportar a angústia frente aos seus fantasmas; dar novos significados àquilo
que não é tão agradável e que não pode modificar. Julgamo-nos infelizes por não
termos o suficiente, quando na verdade, o somos por não sabermos em que é que
temos de melhorar.
O conhecimento de si, para pensar a si mesmo, deve ir além da introspecção. Uma
forma é a reflexão conjunta, como acontece no método socrático, à maiêutica,
que convoca ao diálogo interior, por meio das perguntas de um interlocutor (sem
que as responda!). Nossa vida, se amparada no autoconhecimento, se caracteriza
pelo exame contínuo de crenças em busca de incoerências: somos felizes quando o
que pensamos, fazemos e dizemos estão em conformidade. Necessário que
problematizemos nossas certezas e nossos comportamentos para nos tornarmos
seres mais coerentes.
Quando nos conectamos com outros sujeitos e nos engajamos em um exame
autocrítico, individual e coletivo, ultrapassamos limitações. Nesse sentido,
diante de uma decisão, era comum aos gregos recorrerem a um oráculo. No mais
famoso, de Apolo, em Delfos, duas inscrições chamam a atenção: “Conhece-te a ti
mesmo” e “Nada em excesso”.
É importante se conhecer a fim de tomar decisões corretas não em função das
aparências, nem de vantagens próprias: isso é condição para felicidade.