Guilherme Reolon de Oliveira
Filósofo, sociólogo e
jornalista, doutorando em Ética e Filosofia Política (PUC-RS)
Heráclito
afirmara: “O contrário é convergente e dos divergentes, a mais bela harmonia”.
Um mundo de iguais – é consenso – é chato, tedioso, desinteressante. Já pensou,
por exemplo, comer sempre o mesmo alimento? Assistir a um único filme, ouvir
apenas uma música? Com a sociedade, não é diferente.
As Olímpiadas são
o grande exemplo da congregação das diferenças, dos povos. A última edição foi
a mais inclusiva, com cerca de 49% de mulheres. Nesse sentido, como não se
emocionar com Rebeca de Andrade, uma
ginasta completa, ao som de Baile de Favela, não apenas por seu histórico de
superação (negra, pobre), mas pelo olhar expresso ao concluir o conjunto de
provas, não importando o pódio, mas a felicidade de estar ali, representando
seu país. Olimpíadas é um marco, em muitos aspectos, especialmente da
diversidade: de gerações, de etnias, de talentos, habilidades, de gêneros.
Diversidade de esportes, de corpos: um colírio para olhos acostumados apenas ao
futebol, onipresente no jornalismo esportivo. Exemplos não faltam. Quantos
destaques, inesquecíveis: Mayra Aguiar (medalhista em três olimpíadas
consecutivas), Isaquias Queiroz (com quatro medalhas), Rayssa Leal (com apenas
13 anos), o nocaute de Hebert Conceição.
Palavras
semelhantes às de Heráclito são as de Aristóteles. O filósofo escreveu: “A mais
bela harmonia é feita de tons diferentes”. As cidades que mais se
desenvolveram, as mais progressistas, são as mais diversificadas. Poderíamos
citar Nova York, mas o contexto próximo é profícuo. Neste sentido, nossa capital
é emblemática, cuja diversidade cultural (do rap à orquestra sinfônica) e
religiosa (seu sincretismo) é marcante. Ou Caxias, uma cidade que é conhecida
pelo acolhimento: a grande maioria dos que aqui vivem são naturais de outros
municípios.
Acolhimento e
hospitalidade são conceitos fundamentais quando pensamos a diversidade,
especialmente a partir dos filósofos E. Levinas e J. Derrida. A palavra
“acolher” designa, com a noção de Rosto, a abertura do eu para a alteridade, a
responsabilidade incondicional pelo Outro, a valorização do diferente – Olhar o
Outro em sua singularidade.
Empresas, a
partir das métricas e índices ESG, B-Corp
e Stakeholder Capitalism, tem a
diversidade como foco da cultura organizacional, ao lado da sustentabilidade e
da compliance. A valorização da
diferença é o princípio, o fundamento da ética. Os movimentos Black Lives Matter e MeToo levaram as
empresas à caça de diretores de diversidade. As Olimpíadas representam o mundo
compartilhado, conectado, além do digital. O recorde de medalhas brasileiro,
consequência de atletas que vestem a camiseta, a defendem, que inovam (através
da superação), mostra que os esportes são um exemplo para as empresas: a
diversidade é um dos pilares do sucesso! As paraolimpíadas vem aí. Vamos celebrar as competições e, quiçá, mais
medalhas. Esstas sãp importantes, mas não só. Não nos esqueçamos da máxima do
mundo grego: mais do que vencer,
competir para congregar!
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