Guilherme Reolon de Oliveira
Filósofo, sociólogo e jornalista
Em
homenagem ao meu pai, José Enor Andrade de Oliveira (1961-2021)
Nos corredores da Mercopar, atraiu
minha atenção a seguinte fala de um expositor: “a gente quer que os filhos
saiam das telas, mas a gente não sai”. A dependência tecnológica contrasta com
a indústria 4.0. Recentemente, as redes sociais ficaram indisponíveis e
evidenciaram a violência travestida de poder. A exposição de robôs na Mercopar
ilustrou algo que a pandemia exacerbou: a interação é o que nos torna humanos.
Fala-se em patologias, físicas e psicológicas, advindas com o uso excessivo de
softwares como Zoom e Google Meet durante este período:
socialização corrompida é apenas uma de suas consequências, assim como relações
eclipsadas pelo esgotamento da atenção sem filtros requerida pelas câmeras
ininterruptas. Pesquisas apontam que crianças ficaram com atraso na fala após o
isolamento social; durante a pandemia, pessoas pararam atividades físicas,
ganharam peso, estão consumindo mais bebida alcóolica. Em suma, fragilização
das subjetividades, esfaceladas pela impossibilidade do reconhecimento do
diferente que acontece pelo encontro com o Outro, através do Rosto. Na
pandemia, o Rosto foi ora mascarado, ora enquadrado em telas: relações mediadas
favorecem não-relações. “Eu falo, tu falas” não significa “nós dialogamos”.
Home office e educação à distância precarizaram interações trabalhistas
e educacionais, intensificadas pelo caos dos últimos 18 meses. Poucos corpos,
poucas mentes são preparados para conexões mediadas por telas. Sabe-se que
custos (não apenas monetários) são transferidos das instituições para as
pessoas: direitos rasgados, aprendizados subtraídos. Independente da forma, dos
métodos, dos processos, a finalidade do trabalho e da educação é a pessoa.
Indústria 4.0 e aprendizagem ativa têm como alvo o progresso do humano, caso
contrário incorrem em impostura perversa. Aula não é o mesmo que palestra,
sequer apresentação de slides. Show
não é sinônimo de live. E trabalho à
distância não significa produção real. O encontro é fundamento da ação, logo da
ética das relações.
Inovação não depende da
tecnologia. Transformação é a interconexão entre técnica e arte. Líderes, por
vezes, não são aqueles que têm o poder instituído. Mas aqueles que, por meio do
exemplo, agregam, propõem, motivam, promovem mudanças, aliam vanguarda e
tradição, são focados e, ao mesmo tempo, abertos, tem um interesse genuíno de
aprender e compartilhar conhecimento. Qualidades inerentes ao professor. Na
indústria 4.0, estão em conformidade à cultura organizacional 4.0 valores como
inclusão, diversidade, sustentabilidade, transparência, responsabilidade social
e ambiental.
Voltando ao início de nossa
reflexão, mais um ponto merece destaque. Pesquisas apontam que, pela primeira
vez, a geração atual apresenta menor QI que a anterior. Especialistas dizem que
isso é resultado do uso excessivo de telas. E como está a inteligência
emocional dos jovens? Por que será que os executivos do Vale do Silício
restringem de seus filhos o uso de computadores, celulares e redes
sociais?
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