Julgamentos sobre a
VIDA!
Vera Marta Reolon
Hannah Arendt,
aluna de Heidegger, filósofa política, judia. Quantos adjetivos para defini-la.
Algum a define realmente em sua essência? Muitos, neles incluídos,
principalmente seus colegas refugiados do nazismo nos EUA provavelmente não
conseguiram compreendê-la.
Ela viveu na
Alemanha nazista, como professora de política. Perseguida pelo nazismo por ser
judia, exila-se, foge para os EUA, onde se torna professora de alemão. Sem
documentos vive condição de liberdade cerceada.
Junto a outros
refugiados perseguidos e judeus mantém grupo de discussões, encontros e
contatos. Após a prisão/detenção de Eichmann, Hannah é convidada por uma
revista para escrever sobre o julgamento do mesmo. A reportagem resulta em um
livro onde ela vai questionar a forma como Eichmann é perseguido e capturado, levado
preso para ser julgado em Nuremberg, onde seu julgamento acontece. Esta é uma
grande questão de ordem ética, pois ela vai se contrapor a seus colegas judeus
para pensar sobre formas humanas de ação e diferentes julgamentos sobre seus
resultados e consequências.
Por quê sou
judeu e perseguido pelo nazismo, estou isento de julgamentos sobre meus atos e
posso ultrapassar limites, inclusive na busca pela “suposta” (ou não ) justiça?
Quanto a
Eichmann, em sua defesa, traz a ideia de
que era um soldado a praticar atos sob o mando de alguém. Logo, não tem
responsabilidade sobre tais atos.
Hannah abre
discussão sobre esta proposição fazendo-nos pensar: se somos/estamos praticando
atos sob ordens de alguém não conseguimos refletir sobre estas ordens, questioná-las
e, quiçá, não as realizar se concluímos que são imorais, injustas ou/e vão
contra nossos preceitos éticos? Quando recebemos ordens, mesmo que em situações
de guerra, não temos autonomia de pensamento, a perdemos e apenas praticamos
atos mesmo que errados, deixando de ser o que chamamos (ou entendemos ser)
humanos?
Em seu texto A
Condição Humana, Hannah nos diz que, tanto Kant, com seu imperativo, quanto
Sócrates , com seu “dois em um”, tinham a ética antes, já a portavam logo todo
o imperativo e resolução já portariam preceitos éticos em sua origem. Isso quer
dizer que, quando analisamos o imperativo de Kant e o “dois em um” (conversa
consigo mesmo frente a um impasse que necessita resolução) socrático , devemos
sempre ter em mente essa condição, qual seja a que a ética, o ethos já aí está. Quando trazemos a ética em nosso ser, mais
fácil será praticarmos e julgarmos atos com fins de atingirmos resultados
justos.
Grandes
questionamentos de Hannah também se dão no campo da linguagem, quando declaramos
“o povo”, a sociedade cometeu tal atrocidade, tal fato. Mas, quem é a
sociedade? Ela dirá, quando responsabilizamos todos, não responsabilizamos
ninguém, porque não conseguimos apontar um responsável.
Tantas
proposições filosóficas vindas de alguém que não se nomeava filósofa, mas sim
do campo da política. E a filosofia, quanto nos ajuda a pensar nosso mundo
neste pós Segunda Guerra e depois desta grande pensadora?
Palavras-Chave: Judeus , Nazismo, Julgamento,
Responsabilidade, Ética, Filosofia.
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