Poucos são os profissionais que compreendem que fazer com técnica e estilo, constituindo uma assinatura, torna arte seu trabalho. Frequentemente, associam um bom trabalho à quantidade - fruto das primeiras teorizações na administração. Resultado do taylorismo e do fordismo, a sociedade dissociou trabalho e arte, ciência e arte.
A Chandon é filha da tradição francesa de produção de espumantes e, como tal, valoriza a qualidade em detrimento da quantidade. São apenas "seis" rótulos, todos produzidos no método charmat, desmistificando também a persistente e equivocada ideia que espumante de qualidade é apenas o produzido no método tradicional. Quando se instalou em Garibaldi, em 1973 (está em mais seis países), a vinícola soube captar bem a peculiaridade do clima e do solo da região e não forçou a adaptação de um fazer típico de outra realidade. Compreendeu a singularidade do basalto, a amplitude térmica e aprimorou o saber do charmat.
Constituir uma identidade, fundamentada em sua diferença: esse foi o foco da Maison Möet & Chandon, um dos grandes "braços" do conglomerado empresarial LVMH, que congrega marcas de relógios (como Hublot), moda (Fendi, Bvlgari, Kenzo, Givenchy), perfumaria (como Dior) e bebidas (onde a Chandon se inclui, como a Don Perrignon e a Hennessy). A França é muito sábia nesse sentido e formou seu poder exatamente aí, desde Luis XIV: foi pioneiro em soft power, quando nem se pensava nesses termos.
O tour proporcionado na Chandon também é singular. Além de contar com a presença da tecnóloga em enologia Daniela Chisini, receptiva e hospitaleira, cabe o destaque para o domínio técnico desta. Com o auxílio de projeção digital, a apresentação fica ainda mais completa, já que ela expõe, de maneira didática, os processos químicos (inclusive as fórmulas) que acontecem nos tanques. O turista (ou quem, como nós, que esteve lá a trabalho) não só assiste a exposição, como experiencia a produção, engarrafamento, encaixotamento,.., : no paladar e no aroma (prova de etapa inicial), no visual (enxerga internamente o tanque). Depois de passar pelo laboratório técnico e pelos tanques, é levado para a fábrica, onde acompanha todos os processos de engarrafamento até a expedição (que só acontece três meses depois das garrafas estarem nas caixas). Por fim, o turista, se agendou a visita, prova de todos os rótulos da Chandon. O melhor: o tour, diferentemente de outras vinícolas, não é cobrado.
Aliada à expertise técnica, está a sensibilidade dos enólogos, transmitidas por estes aos mais de cem produtores parceiros. O terroir da Chandon também prima pela qualidade, concentrando-se em três variedades de uvas: riesling itálico, pinot noir e chardonnay. O CUIDADO, conceito empregado por Heidegger como determinante da propriedade ou não de si mesmo, é fundamental para a Chandon, o que reverbera em assinatura, estilo, identidade marcantes e singulares. Há método na plantação e na colheita: as videiras estão conduzidas verticalmente (em "espaldeira"), a poda é padronizada, a colheita é manual e seletiva.Imediatamente as uvas são separadas, classificadas conforme variedade, origem, teor de açúcar. E, o mais importante diferencial da Chandon: a técnica e a arte do assemblage, fruto do trabalho conjunto da equipe técnica.
O assemblage é a harmonização de vinhos de uma mesma região, porém de diferentes safras e variedades e se assemelha à arte da perfumaria, divergindo de uma simples mistura. É o que identifica a Chandon, já que proporciona permanente qualidade, constância de aroma, aspecto e sabor, diferentemente da maioria das vinícolas afetadas pela inconstância da safra, que resulta em inconstância de vinhos.
Isso é pouco para dizer da Chandon. O que vale é conhecer, provar, se encantar com a experiência estética.
GUILHERME REOLON DE OLIVEIRA
MTb 15.241
Fotos by@GuiReOli
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