CRÍTICA DE DANÇA
Senhoras Solteiras - Single Ladies - Put a Ring
on IT - Ponha um Anel - Beyoncé (tradução livre)
Todas as Senhoras solteiras
Na boate
Nós acabamos de terminar
Estou fazendo do meu próprio jeito
Você decidiu sair fora
E agora quer surtar
Porque outro cara reparou em mim
Eu estou na dele
Ele está na minha
Não preste atenção nele
Porque chorei as minhas lágrimas
Por três bons anos
Você não pode ficar bravo comigo
Porque se você gostava
Então devia ter me dado um anel....
Três situações: infantil - adulto- o quê?
Desde as proposições da infância, universo
adolescente, o sexualizado quase explícito do adulto e a transposição para o
universo homossexual ( com uma "performer" ilustre e
"superstar").
Mas nem o desenho se presta apenas ao público
infantil, nem os shows espetaculares são destinados apenas ao público adulto.
O ambiente é uma escola americana: pequenas
esquilas cantam.
O ambiente é festivo, todos adoram, dançam,
querem ver, batem palmas acompanhando o ritmo da música.
Mas, a música, qual é?
É um hit de uma cantora superstar do momento -
Beyoncé, ou melhor Sasha (assim ela se nomeia). A música Single Ladies -
Garotas Desacompanhadas - Garotas Solteiras - Garotas Sózinhas. Que tipo de
solidão?
A solidão da solteirice, não da falta de amor.
Aqui, não se fala em sentimento, fala-se em estar solteira e não ter anel de
noivado.
A moça foi "largada" na boate, o
"sujeito" resolveu "cair fora" e a tal, sem perda de tempo,
parte para outra. O sujeito então surta, porque queria que ela ficasse na
melancolia, aguardando e/ou chorando seu retorno.
Mas as garotas desacompanhadas querem
compromisso!. Não necessariamente amor, aliança no dedo, um homem para dizer
seu.
Com este mote, Beyoncé, Sasha de maiô preto,
sapatos pretos, com duas bailarinhas grita, canta, dança o seu "não estou
nem aí".
Coreografia de abertura de pernas, movimentos
sinuosos, muita sensualidade e sexualidade latentes.
Já as pequeninas esquiletes - Alvin e os Esquilos 2, vestidas com
saiotinhas e blusinhas coloridinhas, estilo uniforme colegial, movimentam-se
"batendo cadeiras", rebolando, erguem braços, pernas quase nada,
apenas para pequenos deslocamentos.
O terceiro momento da mesma música, em que
todos, tanto esquiletes, quanto estas (as terceiras), buscam uma releitura do
show-clip de Beyoncé.
Aqui o contexto é um festa de casamento gay, em
Nova York. Tudo é grandioso, o noivo (a) é organizador de festas, tudo é
excessivo, o casal está a comprometer-se um com o outro, mas já combinaram a
possibilidade de outras relações fora do casamento.
Lisa Minelli é a condutora do casamento, mas
fará também o espetáculo com duas bailarinas. Todas as três com micro
vestidinhos pretos, botas e meias pretas. Como convém a uma "senhora"
quase centenária, os movimentos de pernas são mínimos. Há mais braços, indicações
da mão e a possibilidade do anel no dedo. A festa, a festividade é
máxima. Todos acompanham cantando, dançando, olhando, se maravilhando.
Enquanto o original é clip-show, as esquiletes
apresentação escolar, aqui o show é adulto participativo.
Com Beyoncé os movimentos são máximos,
poder-se-ia dizer que aqui é mais dança, performance, movimento, deslocamentos,
abertura de ginastas, mais do que performance vocal (já que o som é
"black") - embora música e letra sejam dela, junto a outros.
Com as esquiletes o centro está no rebolado, em
movimentos harmônicos, mas curtos.
Beyoncé, em sua melhor forma, ao deixar as
Destiny Childs e se lançar em carreira solo, o faz com maestria, divulga no
mínimo três hits de sucesso, emplaca-os de saída, Single Ladies, If I were a
boy e Hallo, neste disco pré Jay-Z e sua "pasteurização"
eletrônica.
No clip de divulgação da música há jogos de
claro-escuro, Beyoncé opta por duas bailarinas negras, os movimentos das três
beiram a perfeição em sincronia, harmonia, visualização. A cor dos maiôs
só faz ressaltar ainda mais o claro-escuro, luz e sombra, aparição-desaparição.
As esquiletes, como apresentação escolar, dá-se
o espetáculo, mas o que fica é a graça, a leveza, o "engraçadinho",
mais do que momento performático, embora a presença seja marcante.
No filme Sex and the Citty 2, onde se insere
Lisa e seu grupo, também de duas bailarinas e ela, é o ponto alto do filme,
pois aí, a música e seu sentido, são o mote roteiral do filme. Como tal a luz é
máxima, como convém a uma diva da música e de Hollywood de todos os tempos.
As três performances estão em filmes, também em
número de três, o de Beyoncè clip-show, não há roteiro, a não ser do show,
performance.
Nas esquiletes o ambiente é escolar, filme
adolescente, família.
Já a apresentação de Lisa é o ponto alto de um
roteiro que questiona exatamente o que a letra da música explora, os
relacionamentos.
O que queremos - queremos amor, ou um anel no
dedo e uma relação de fachada?
Fica a questão!!!!
"se abandonamos nossos sonhos não somos
nada!" -(sic) - in Flashdance.
Vera Marta Reolon
MTb 16.069
Jul/2015