Guilherme Reolon de Oliveira
Corporate philosopher,
psicanalista, consultor em felicidade organizacional, doutor em Filosofia
Há alguns anos, uma
notícia surpreendeu o mundo: magnatas do Vale do Silício, como Bill Gates,
Steve Jobs e Mark Zuckerberg revelaram que a educação de seus filhos seria
longe das telas. Causa espanto, no entanto, que pais, cada vez mais, utilizem
seus celulares como babás eletrônicas, até mesmo com bebês, em filas de
supermercado, restaurantes e afins. Que podemos esperar?
Pesquisa recente apontou
que, após progressivos aumentos nos níveis de QI Inter geracionais, a última
geração foi a única que apresentou diminuição do referido quociente em relação
à anterior. Não sabemos o que advirá (e me refiro não apenas às inteligências
lógico-matemática e crítico-argumentativa, mas à socioemocional) da geração
cuja educação extracurricular é baseada em escassa leitura e excesso de vídeos
curtos, e educação formal calcada na apresentação de slides (como
palestras, sem discussões para ampliar e trocar conhecimento): a geração TikTok
e Datashow.
A Comissão de Educação da
Câmara de Deputados aprovou, recentemente, projeto de lei que proíbe o uso de
celulares, por todos os estudantes de Educação Infantil, Ensinos Fundamental e
Médio, em qualquer ambiente escolar, inclusive nos intervalos e recreio.
Sabe-se que o ser humano se desenvolve pela interação com os outros seres
humanos: em outras palavras, o sujeito acontece pelo Olhar do Outro e do outro,
pelo encontro com o Rosto do Outro. Interação essa que deve, primariamente,
acontecer na família e, a posteriori, na escola e nos demais ambientes sociais.
É pela troca, pela escuta de outras narrativas e pela exposição de sua
história, em diálogo, no face a face, que a experiência acontece. A estimulação
que a alteridade proporciona ao sujeito o enriquece em todos os sentidos, ainda
mais se amparada em ambientes e processos diferenciados, o que não ocorre no
âmbito virtual, empobrecedor, mediado pela tecnologia.
Óbvio que os celulares
estão aí (assim como a TV era onipresente, mas não tanto, nas décadas de 1980 e
90), e não há como se isentar das tecnologias. O ChatGPT assombra
os professores, assim como a internet já o fez há tempos atrás. Há que os
professores se reinventarem, o ensino também. Mas essa reinvenção passa por um
retorno à docência, amparada nas teorias da aprendizagem e do desenvolvimento,
ou seja, em um retorno ao diálogo, à interação, a experiências mais abertas e
abrangentes, inclusivas, acolhedoras, empoderadoras, fundadas na confiança.
Esses são os princípios norteadores da escola segundo a Unesco.
Cabe destacar mais um
ponto: a saúde emocional. Sabe-se que esta se diferencia da saúde mental
(caracterizada pela ausência de doença mental). A saúde emocional se alicerça
na primeira infância e é caracterizada por percepção de mundo (o que acontece
ao seu redor, pelo altruísmo), por entusiasmo com a vida (só possível por
vivências reais e diferenciadoras), por autenticidade nas relações (via
interação com o diferente) e por um self forte. Um self forte,
por sua vez, é caracterizado pela capacidade de estar só (ainda que com outras
pessoas), pela interiorização, construída no sujeito pelo cuidado
suficientemente bom, ou seja, nem muito bom (laissez faire), nem mau
(extremamente castrador). Nesse sentido, qual o tipo de cuidado proporcionado
às crianças diante das telas?
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