Guilherme Reolon de Oliveira
Consultor
em gestão da felicidade organizacional, doutor em Filosofia (PUC-RS)
Maio
deixou marcas significativas, e não apenas nas paredes de nossas residências e empresas.
Traumas diante de uma capital surpreendida com enchentes que nunca mais
aconteceriam, não fosse como lembrança de um
passado distante. Mas as águas do Guaíba invadiram e o caos
reverberou em perdas, lutos, tristeza, sofrimento psíquico. No
futebol, apenas agora a dupla Grenal retoma suas atividades em suas casas, em
seus templos: dois meses de afastamento daquilo que lhe é mais próximo. As
consequências se explicitam em equipes
desmotivadas e desconectadas, com perda de foco, constantes
erros técnicos, que se traduz em jogos perdidos, mas também em
comportamentos violentos dentro de campo, com excesso de faltas.
Em
contraste, alguns campeonatos, ao redor do mundo, estão aderindo à ideia do
Cartão Branco, que difere dos tradicionais cartões amarelo e vermelho (cujo
propósito é a punição). O cartão branco não funciona como advertência ou
expulsão, mas como reconhecimento por atitude positiva. Incentiva o fair
play, o jogo limpo. O cartão branco é mostrado ao jogador quando este age
com esportividade, em atitudes como admitir falta cometida ou reconhecer erro
de arbitragem.
Quando
se fala em fair play, a referência são valores fundamentais que devem ser
aplicados em qualquer competição, como o respeito, a ética vivenciada em
atitudes positivas e centradas em princípios. A campanha Respect, nesse
sentido, promovida pela UEFA, foi significativa para inclusão, diversidade e
acessibilidade no esporte. Seu emblema, presente em bandeiras e, especialmente,
nos uniformes, deu visibilidade a essas questões.
O
comportamento é algo de fundamental importância no esporte. O trabalho
desenvolvido em Portugal, através do Plano Nacional de Ética no
Desporto, é significativo nesse sentido, e referência para minha atuação como
filósofo em equipes esportivas. Diferentemente do psicólogo do
esporte, o filósofo propõe às equipes questões que passam desapercebidas: quem
somos, o que fazemos, como superamos? Em outras palavras, mover-se por valores,
tais como amizade, espírito de equipe, disciplina, respeito (a equipe é mais do
que a soma de indivíduos). O que quero, o que posso, o que devo fazer,
como resolvemos isso a partir de nossas individualidades para formar um bloco
único?
Na Inglaterra, o Plano de Desempenho de Jogadores exige o estabelecimento da Filosofia do Jogo, para o desenvolvimento dos atletas, desde a formação. Cristiano Ronaldo afirmou, em entrevista, que seu segredo é “preparação”, associada à “ética no trabalho”, destacando equilíbrio psicológico, motivação, realização profissional e, principalmente, felicidade, como fatores de sucesso. Nesse sentido, cabe lembrar que a Felicidade, além dos valores éticos, é o grande foco do filósofo em equipes esportivas. Felicidade, não como sinônimo de prazeres atingidos, mas de “ser com excelência”, a partir do autoconhecimento e do cuidado de si.
O
atleta, amparado no conhecimento seus diferenciais, seus pontos fortes e
fracos, suas habilidades e limites, o que deseja de fato, terá maior segurança
de si, apresentando importantes subsídios para lidar com dificuldades dentro de
campo. A partir do autoconhecimento desenvolverá saúde emocional,
traduzida em percepção de grupo, self forte, entusiasmo com a vida, relações
autênticas.
As academias de formação de atletas, na maioria dos clubes europeus, estabelecem seis atributos-chave de desenvolvimento, que se influenciam mutuamente. Tática, técnica e capacidade física correspondem apenas a 50% deles. Outra metade, de igual relevância, são as capacidades emocional e mental, bem como o estilo de vida do atleta. Cabe ao filósofo, nas equipes esportivas, o desenvolvimento desses últimos aspectos, em cada atleta, que reverberarão em boas práticas individuais, como sustentáculo de equipes mais coesas, integradas, conectadas, inspiradas e confiantes. Até porque “o talento vence jogos, mas só o trabalho em equipe ganha campeonatos”, como bem lembrou Michael Jordan.
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