Guilherme Reolon de Oliveira
Corporate Philosopher,
Consultor em Gestão da Felicidade Organizacional, Doutorando em Filosofia
(PUC-RS)
Inaugura hoje um novo espaço
cultural em nossa cidade: é o Fórum Cult, que surge com o propósito de acolher
exposições de artes visuais e sessões de autógrafos de livros, no Fórum da
Comarca de Caxias do Sul, a partir do diálogo entre o Judiciário e a Sociedade,
que o Programa de Gestão da Felicidade impulsionou.
A exposição que inaugurará o
Fórum Cult é a “Retratos”, do Clube do Fotógrafo de Caxias do Sul: reunião de
23 retratos, cada qual capturado pelas lentes de um artista membro da
associação. Arriscaria dizer que retratar alguém é tentar capturar a identidade
desse sujeito (ao menos no instantâneo), o que é uma impossibilidade, mas
retratar é o símbolo do originário da relação com a alteridade, que acontece
com o Rosto. Isso porque a verdadeira essência do homem, segundo o filósofo
Emmanuel Levinas (1905-1995), apresenta-se no Rosto. O Rosto se contrapõe ao
fenômeno, à simples apresentação e à representação.
É na relação face a face, e
esse é o grande trunfo desta exposição, já que os retratos se estabelecem na
relação entre o fotógrafo e o fotografado, que se dá a linguagem ética, como
fonte de todo o sentido do homem (diria aqui que é o contrário de toda “relação”
virtual – tão amplamente utilizada nos dias de hoje).
O sentido do humano acontece no contato, na relação
intersubjetiva. E, nesses termos, o Rosto convoca à responsabilidade que tenho
para com o Outro.
Perceber os rostos que os 23
artistas do Clube do Fotógrafo nos mostram, através do seu Olhar, é perceber a
Diferença, aquilo que não me é próprio (enquanto fotógrafo ou espectador). O
Rosto é a novidade, a surpresa, porque é sempre um desconhecido, o exterior, o
estrangeiro, e me traz, me lembra de algo que não possuo, que não sou. A
experiência com o Rosto do Outro é única, porque permite ao sujeito, ao
interlocutor, sair de si mesmo e da totalidade: o Rosto convoca ao diálogo,
à inquietude.
O Rosto convoca à
neutralização da violência e do poder,
porque traz, em si, a própria noção do “não matarás”. É da ordem da proximidade,
porque se fundamenta da assimetria das Diferenças. É o pilar da ética, como
relação primordial. O Rosto, nesse sentido, é mais que identidade, porque é
discursividade com a alteridade. O Rosto exige outra atividade: não de posse,
mas de hospitalidade; não de desvelamento, mas de justiça; não de doação
de sentido, mas de receptividade ética. Falarmos em ética e justiça invoca ao
tudo a ver com o lugar de onde falamos nesta inauguração (ao menos é o que toda
coletividade espera como tal!).
A exposição Retratos, que
dialoga com a Galeria dos Diretores do Foro da Comarca, onde o espaço cultural
se configurará, é um convite para a renovação, para desenvolver e aperfeiçoar a
relação entre Judiciário e Sociedade. E esse é o principal propósito do Fórum
Cult: ser um espaço de acolhimento, par’além dos processos judiciais, das
queixas, dos problemas e dos conflitos sociais e pessoais.
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