Guilherme Reolon de Oliveira
Corporate
Philosopher, Consultor em Felicidade Organizacional, Doutorando em Filosofia
(PUC-RS)
“É muito simples: só se vê bem
com o coração. O essencial é invisível as olhos”, disse a raposa ao
princepezinho. O cotidiano nos aponta que, a todo instante, nossa vida é muito
mais que razão: nossas escolhas, nossos interesses e nossas questões são permeados
por emoções, sentimentos e fatores intangíveis, que sequer temos consciência de
sua amplitude e complexidade A esfera jurídica é exemplar nesse sentido: no
contexto processual, a lide judicial é apenas a ponta do iceberg, sendo a lide
sociológica (as relações, as entrelinhas, onde figuram os reais interesses dos
envolvidos) muito maior.
A obra “Heróis do Quintal”, do escritor caxiense Jonas Piccoli, revela importantes insights sobre essas questões. “A vida é como música: união de sons e silêncios”. Piccoli ensina que ser herói é consequência de empatia e altruísmo, qualidades raras ao ser humano contemporâneo, ligado no automático, interessado em likes e seguidores, ansioso, angustiado e depressivo, tantas vezes insatisfeito com o trabalho, estressado, traumatizado, isolado e... medicado. Fugindo de conhecer a si mesmo, de refletir sobre qual é seu desejo genuíno (e não o que esperam que o seja), seus gostos, suas forças de caráter, seus potenciais e limites, através, não só de medicações psiquiátricas (cujos efeitos são, cientificamente comprovados, mínimos – isto se nos esquecermos que medicações são DROGAS, mesmo que lícitas), mas de técnicas terapêuticas questionáveis e procedimentos estéticos. “Sem tempo e dinheiro” para si, mas com a agenda (e o bolso) cheia para fugir de si. Olhe (com atenção!) e veja, não só o aumento considerável de moradores de rua, mas de farmácias e centros estéticos.
Ser herói,
verdadeiramente, não concerne a superpoderes como os de Superman, dos X-men
e afins, mas aos superpoderes do cuidado do outro, do amparo, da presença, do
Olhar e do Escutar, sustentados pelo cuidado de si, via autoconhecimento, que é
felicidade autêntica (quando tornamos a Vida especial, independentemente das
dificuldades diárias), não sinônimo do riso alienado. Ser herói não do mundo inteiro, mas de nosso
quintal, nesse sentido, é ser feliz de fato. Piccoli destaca a força dos
silêncios. Algumas vezes eles são necessários, quando reflexivos e
introspectivos. Mas, muitas vezes, abafam as palavras, nos deixam sem palavras.
E é impossível ficar em silêncio, como afirma o dramaturgo Márcio Abreu em “Sem
palavras”. O país está em ruínas, se constituiu sob ruínas e é preciso que as
coisas sejam ditas, para não destruírem ainda mais. Expressas também por aqueles
que não tiveram “acesso aos púlpitos, às assembleias, aos palcos, às telas, às
ondas sonoras, aos microfones”. Mais que “organizar a raiva para reinventar a
vida”, é preciso que se dê corpo àquilo que sufocamos, censuramos, enterramos,
silenciamos, em nós mesmos e nos outros, nas inúmeras fugas do cotidiano.
Talvez, a questão fundamental
seja ser herói de nós mesmos, por um caminho árduo e trabalhoso, que é o
autoconhecimento e o cuidado de si. Para nascer de fato! Para não morrer
sem nunca ter nascido! Tornar-se si mesmo a partir de uma estilística da
existência, ou seja, existir autêntica e verdadeiramente, a partir da
descoberta de seu estilo. Para, assim, identificar o que se é,
qual sua obra, seu propósito. E, com isso, Olhar e Escutar o Outro, ser herói
do quintal e reconhecer a alteridade em sua Identidade e Diferença.
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