Guilherme Reolon de Oliveira
Corporate Philosopher, Doutorando
em Filosofia (PUC-RS), com pesquisa em Felicidade Organizacional
“O que você faria se só te
restasse esse dia?”, provoca Paulinho Moska, na música O último dia, tema
de abertura da novela O fim do mundo. Embora muitos evoquem, em seus
pensamentos, atitudes consideradas, socialmente ilegais, imorais ou que
engordam, como diria Roberto Carlos, para responder ao questionamento,
interessante é que possamos refletir sobre o que fazemos com nosso tempo, nosso
dinheiro, nossa vida.
Carpe diem, a expressão extraída
de uma das Odes, de Horácio, traduzida por “Aproveite o dia”, evoca os ideais
estóico-epicuristas, diante da incerteza do futuro. Viver plenamente o momento,
como uma experiência única, sendo grato pelas vivências passadas e projetando,
com esperança, novas conquistas, é condição para a felicidade. Felicidade é
aprender a fazer escolhas: escolher amigos, valores, prazeres, a partir do
exercício do “conhece-te a ti mesmo” e do cuidado de si, investigando “o que
desejas de fato. O que fazes com o que fizeram de ti?”
O poeta norte-americano Walt
Whitman, no belíssimo poema Carpe Diem, mote do clássico filme Sociedade
dos poetas mortos, com Robin Williams, assim expressa o que caracteriza uma
vivência de fato (diferente da sobrevivência): “Aproveita o dia / Não deixes
que termine sem teres crescido um pouco / Sem teres sido feliz, sem teres
alimentado teus sonhos / Não te deixes vencer pelo desalento [ou] permitas que
alguém te negue o direito de expressar-te, que é quase um dever [ou] abandones
tua ânsia de fazer de tua vida algo extraordinário.” Mais à frente, Whitman
destaca do imperativo de valorizar a beleza das coisas simples e, o mais
importante: “Não atraiçoes tuas crenças” (fique claro aqui que isto é o
princípio básico da ética!). Por fim, o também ensaísta convoca: “Pensa que em
ti está o futuro, e encara a tarefa com orgulho e sem medo / Aprendes com quem
pode ensinar-te as experiências daqueles que nos precederam / Não permitas que
a vida se passe sem teres vivido”.
Nesse sentido, aproveitar o dia
não é sinônimo de uma liberdade sem limites, mas de presença no seu fazer. O
pensador Emmanuel Levinas nos lembra que a liberdade de um só começa quando
inicia a do outro, o que completa a máxima do existencialista Jean-Paul Sartre:
só há liberdade com responsabilidade.
Carpe diem é o princípio,
não apenas da felicidade, mas da vida autêntica. Na concepção do filósofo
alemão Martin Heidegger, a vida autêntica é aquela que, diante da ciência da
certeza da morte (que caracteriza o humano), se projeta no tempo para o futuro,
aberta às possibilidades que se apresentam. A vida inautêntica se contenta com
as verdades dadas, deixando-se levar, seguindo a existência no modo automático.
Existir autenticamente, por sua vez, é afirmar a potência da escolha,
orientando-se pela originalidade de si em cada momento, tornando-os
acontecimentos: em outras palavras, especiais. Carpe diem, aproveita teu
dia, curta cada momento.
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