Guilherme Reolon de Oliveira
Consultor em Gestão da Felicidade nas organizações,
Corporate Philosopher
Concluído
o primeiro turno das eleições, possíveis deduções se apresentam a partir de seu
resultado (especialmente na esfera federal), fruto do discurso social
contemporâneo, exacerbado pelas consequências psíquicas da Covid, que só
calcificou o caos da última década. Transfigura-se uma postura
perverso-paranóica, cujo principal sintoma é a ânsia pelo poder (e o gozo
advindo dele), traduzida por violência simbólica inscrita no terreno do
excesso, da desmedida, da fala irracional, do discurso de ódio (ainda que
mascarado de democrático) e da intolerância, no campo da mentira, do
falseamento dos fatos, no uso de subterfúgios jurídicos (e, mesmo, de regras estabelecidas em debates televisivos, com direitos de resposta inscritos em mais agressões - também a fim de ganhar mais tempo do que os demais nas telas!!). Importante dizer que os tempos de aparição midiática com ataques ao outro só exacerbam a falta de projetos políticos, necessidade básica para o bem votar, o voto com sabedoria e consciência política real.
O
último debate, um trailer para o pleito de domingo, evidenciou personas com
projeto de poder, e não projeto de governo. Séries e filmes, como House of
Dragon e Os anéis do poder, Game of Thrones, Senhor dos Anéis e House of Cards
(para citar apenas alguns), representam, exemplarmente, que o poder, como se
manifesta na atual política, é o contraponto da felicidade. Explico. Amparada
na moderação e no equilíbrio, a felicidade se caracteriza pelo exercício da
virtude, num processo de tornar-se si mesmo, a partir do cuidado de si e da
máxima “conhece-te a ti mesmo”, cuja exteriorização acontece na amizade, na
ação ética, calcada em sentido e propósito. Em sistemas como grupos,
organizações e instituições, resulta em relações fortes e liderança autêntica.
O
atual discurso político, consequência do laço social inscrito no campo do gozo
do poder, em contrapartida, é calcado na dominação e na ganância. A idolatria e
a servidão de seus seguidores (cega, surda, desproporcional, excessiva,
alienada, sem memória e não reflexiva) está simbolizada na polarização. Golun,
diante do anel, como idólatra, verbaliza “meu precioso”. Aemond, ao perder o
olho, resultado de uma briga com seus primos (prefigurando a disputa pelo
trono), destaca que prefere o dragão em detrimento do órgão que permite
enxergar mais – que metáfora, não? A invisibilidade proporcionada pelo anel e o
fogo exalado pelo dragão expõem a fragilidade do poder que é fundado em bases
polarizadas: a solidão e o desamparo do detentor do poder, a destruição e a
pulsão de morte avassaladora.
Ser feliz (absolutamente contrário às risadas forçadas pelo uso exacerbado de drogas medicamentosas), já disse o filósofo, é querer ser o que se é. O poder, como concebido pelo discurso contemporâneo, se caracteriza por querer ser o que não se é (e sim o que as máscaras vestidas sobre nosso ser fingem mostrar). Importante que não confundamos. A felicidade autêntica, baseada no cuidado de si, tem como consequência o cuidado do outro. O exercício do poder, por sua vez, se ampara no gozo do domínio. Novamente a ficção ensina: interessante recordarmos a animação “Capitão Planeta”. Um herói (um líder) se constitui pela união de singularidades, pelo respeito às mesmas, pela representação da liderança genuína advinda do respeito que o grupo lhe outorga. Um poder maior (um poder de liderança) acontece quando poderes se unem em prol da alteridade, cada qual com seu talento, em esforços conjuntos. Um poder autêntico transfigura-se quando há reconhecimento da diferença, projeto nacional em última instância.
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