Marcante foi o espetáculo “Terra”
da Endança – Jazz e Cia, que
aconteceu nos dias 20 e 21 de dezembro, no UCS Teatro. Era para ser só (só?) a
mostra de trabalhos anuais de uma escola de dança. Sabe, daquelas que se vê
muito, com aquela cara de amadorismo, em que nada parece sequer ter sido
ensaiado, com erros crassos, em que cada convidado só parece interessado em ver
o seu amigo e ir embora? Pois é, “Terra” não foi nada disso. O espetáculo foi
marcado pelo profissionalismo e pelo argumento (conceito empregado, à
semelhança de uma narrativa) que costurou todas as coreografias. E a Endança se
mostrou uma Companhia.
Sobre o argumento, “Terra: a casa
que habitamos”, importante destacar que foi escolhido numa época de valorização
da sustentabilidade ambiental, o que o torna bem contextualizado e atento às
preocupações contemporâneas. Houve uma pesquisa bem fundamentada do tema, o que
ficou claro pelo texto contido no programa (o mesmo narrado durante o
espetáculo) e pelas imagens projetadas ao fundo do palco, que funcionavam como
cenário. O texto e as imagens, associados, só engrandeceram e favoreceram as partituras de movimentos, e
se constituíram: desde a origem do universo, há 15 bilhões de anos, até a
sociedade humana atual. A direção, nesse sentido, optou por um caminho mais
seguro, não atento a fatos históricos – o que seria um trabalho gigantesco ou
superficial – e trouxe a formação dos planetas, da Terra, dos primeiros seres,
dos seres com organismos mais complexos (da água, do solo e do ar), do homem.
Posteriormente, destacou as grandes civilizações – os sumérios, os egípcios, os
chineses, os núbios, os gregos, os romanos, os maias, os incas, os astecas, os
vikings, os atlantes. Por fim, a sociedade atual (nesta, uma mostra excessiva
de celulares, embora esses, de fato, sejam um elemento da atualidade).
Embora um pouco cansativo, pela
duração de duas horas e vinte minutos, o espetáculo soube dosar bem a
integração de quase duzentos bailarinos, de todas as idades e todos os tipos de
corpos, o que também merece destaque, já que a apresentação não se fragmentou,
ou compartimentou, em turmas. Obviamente que se percebeu certa divisão, mas não
como comumente se observa, em que pequenos se apresentam e vão embora, depois
adolescentes, depois adultos.
Quanto ao figurino: a Cia soube cria-lo
e usa-lo de forma muito eficiente, contribuindo para o espetáculo, assim como a
iluminação (ora com foco, ora em contraste). Roupas muito bem elaboradas, dando
Sentido com todo, principalmente no tocante aos seres vivos (com destaque às
águas-vivas, cobras, onças e macacos – destaque cênico-interpretativo desses
últimos, assim como do grupo dos vikings).
Em relação à partira de
movimentos: embora bem executados, com
sincronia grupal e sem erros evidentes, ressalta-se que a Presença se
constituiu em determinados bailarinos que, percebe-se, gostavam muito de ali
estar, outros, no entanto, embora executando com precisão as coreografias, o
faziam mais mecanicamente, sem assinatura. Claro, sempre há isso. Cabe também uma
crítica quanto à variedade de movimentos, que poderiam ter sido mais
explorados. Sabe-se que a Endança é uma companhia de jazz e danças urbanas, mas
outros movimentos poderiam ter sido incorporados, de modo a não reprisar tanto
alguns deles – quem sabe usando espaços alternativos, horizontalizando mais.
O espetáculo, sem dúvida, merece
ser exportado, apresentado em outros espaços, talvez com duração menor. Tem
tudo para ter mais sucesso. O que falta à Endança é divulgação e um bom
trabalho de assessoria de imprensa e marketing.
Guilherme Reolon de Oliveira
Mtb 15.241
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