Aconteceu nesta semana o Caxias
em Movimento. Embora a cidade seja uma das únicas no país a ter uma companhia
municipal de dança, muito há por fazer em relação a esta arte por aqui – claro,
não só em Caxias, o público de dança é escasso. Mas em alguns momentos, há o
que comemorar. Já falamos neste espaço sobre o espetáculo Contos de Falta, por
exemplo, da companhia municipal – apresentado novamente neste fim-de-semana, no
Theatro São Pedro, em Porto Alegre.
O Caxias em Movimento, contudo,
trouxe um pouco de tudo. O primeiro dia de apresentações, no Teatro Valentim
Lazzarotto, foi um mix de diversos grupos: desde folclóricos e religiosos até
grupos “amadores” de Organizações Não-Governamentais. O destaque foi o núcleo
artístico do Ballet Margô, especialmente a última apresentação deste.
Na sexta-feira, dia 09, no Teatro
Pedro Parenti, foi a vez da Geda Companhia de Dança Contemporânea apresentar
“Às vezes eu Kahlo”, um espetáculo mais próximo da performance que da dança contemporânea, embora talvez a Cia questione esta avaliação.
Com movimentos diferenciados, se comparados ao que se vê comumente, a performance soube usar bem os elementos
cênicos para construir uma narrativa em que a Presença trouxe sentido, sendo
esse talvez o seu maior mérito: símbolos que remetiam à biografia da pintora
Frida Kahlo estavam lá, como a cadeira de rodas, a flor no cabelo e outros que
lembravam seus traumas cirúrgicos – o serrote, a tesoura, os inúmeros cortes. O
mote era a imobilidade de Kahlo, e isso se fez presente, inclusive nos
movimentos “trancados”, cortados,
suprimidos, difíceis; cabos que prendiam a cabeça, no início, poderiam ser
interpretados como a imobilidade de pensamento, a dependência no início da
vida. Quando estes são cortados, a imobilidade acontece no corpo sofrido. Cabe
destacar o uso de figurino adequado à personagem, bem como o uso da cor preta,
em contraposição ao colorido explosivo,
característico das obras de Frida – o que lembrou um eterno luto pelo
impossível das relações afetivas, pela imobilidade causada por acidentes e
procedimentos médicos erráticos.
Fora do Caxias em Movimento, cabe destacar o espetáculo promovido pelo
Projeto Terça Cult, do Recreio da Juventude, apresentado na Sede Social do
Clube no dia 06. O espetáculo foi um Tributo a Michael Jackson: a primeira
constituindo a apresentação musical; a segunda, dança. Cabe um destaque para
essa última, que ficou a cargo de um excelente Corpo de Baile, da Endança,
conhecida Escola de Jazz. Comparando-se esse espetáculo com o anteriormente comentado,
fica claro que esse se configurou como dança (uma mescla de dança moderna com
contemporânea), ao passo que aquele foi uma performance.
Embora sem cenário e elementos cênicos,
mas com figurino adequado (simples, porém exato na moderação), a Endança soube
agradar ao público com o que tem de melhor: o movimento e o corpo. Destaco a
ligação entre uma coreografia e outra, os pontos de conexão (nunca o palco
ficando vazio, dando a sensação de unidade) e a excelência de movimentos
(mesclando, com mestria, partes sincrônicas, em que um grupo com mais
bailarinos se apresentava, e outras em que c ada bailarino executava com
singularidade sua coreografia – Pina Bausch?). Outro ponto alto da apresentação
foi o uso de iluminação – ora focando os singulares, ora dando visibilidade à
sincronia grupal. Realmente um tributo justo ao Rei do Pop, com bailarinos
muito bem preparados. Aqui o Sentido, já conhecido (imortalizado nos clipes de
Michael) foi transfigurado em Presença (bailarinos que poderiam integrar os
shows do astro).
Guilherme Reolon de Oliveira
MTb 15.241
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